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Uma estrada pela Sé adentro

Uma estrada que atravessasse a Sé do Funchal seria um projecto inovador, atrairia “charters de chineses”, ou melhor ferries todos, com o seu carrinho novo, para o verem a única “drive-in catedral” do mundo. Os madeirenses poderiam fruir mais vezes da beleza da Catedral no conforto do seu automóvel. Sim é uma ideia absurda, com isto só quero chamar a atenção para o não menos absurdo que é rasgar a Laurissilva com a estrada das Ginjas.

A Laurissilva é a maior riqueza da Madeira, o maior atrativo turístico, é fundamental para captar água da chuva e um seguro contra fogos e contra as aluviões. Há que preservar essa riqueza única no mundo, património da Humanidade e que se tornará cada vez mais valiosa à medida o aquecimento global e o abate de florestas torna áridos cada vez mais territórios.

Ah é o desenvolvimento… vamos ver qual foi o desenvolvimento que a estrada do Fanal trouxe à freguesia da Ribeira da Janela: entre 2001 e 2017 perdeu 20% dos cidadãos eleitores e foi fechada a escola primária. Onde está o desenvolvimento? Onde estão os empregos criados em função da nova estrada? Em São Vicente não vai ser diferente.

As estradas ou as construções em geral só por si não significam desenvolvimento, isso é uma crença pacóvia. Portugal tem mais auto-estradas (Kms por habitante) que a Suécia ou a Dinamarca, será mais desenvolvido que aqueles países? As novas estradas não levaram o desenvolvimento à costa norte da Madeira nem ao interior do continente que continuam a perder população e a fechar infraestruturas (escolas, bancos, por ex).

Estamos a viver a maior crise das nossas vidas, uma crise global sem precedentes. Ora para grandes males são necessários grandes remédios, não a mesmas velhas e gastas medidas que já conduziram a Madeira e o País à bancarrota.

A obra cria empregos, sim mas só durante o prazo da empreitada. Não precisamos de empregos só por um ano, mas sim para a vida, com perspetivas de futuro. Os milhões da estrada das Ginjas podem ser canalizados com maior vantagem para a abertura de novos caminhos agrícolas que dêm acesso a tantos terrenos que se encontram abandonados há anos ou para a melhoria da rede de rega onde as perdas de água são enormes, para aumentar a nossa autonomia alimentar.

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