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O OBÉLIX do PS

Pegar no PS é acto de coragem com muita margem para o insucesso

Todos nós temos uma especial simpatia pelas figuras da banda desenhada conhecidas por Astérix e o seu fiel amigo Obélix. Este, por ter caído na panela da poção mágica enquanto criança tornou-se um verdadeiro gigante dotado de força física que ninguém usava enfrentar. Os soldados romanos obrigados a combater sofriam consecutivas surras desta besta sobrenatural. Naturalmente tanto peso e tanta força não davam espaço a muita estratégia e sentido táctico mínimo. Era habitual vê-lo, no meio de tantos socos e pontapés, acertar em cheio em alguns dos próprios camaradas da sua aldeia. Muitas vezes sem intenção mas, certamente noutras ocasiões, para acerto de contas. Não fazia mal a uma mosca mas, quando irritado ou provocado, era de fugir pelo estrago que podia fazer.

O PS/Madeira tem muito de aldeia da Bretanha do tempo de César. Infelizmente sem qualquer Astérix. E para infortúnio com muitos Obélix(es). Todas as figurinhas criadas por René Goscinny e Albert Uderzo podiam muito bem ter sido inspiradas nestas duas gerações de partido socialista à madeirense. Teve e tem de tudo. Desde o cantor lírico que não se cala ao druída das mil poções mágicas que garantem vitórias que nunca acontecem. Por mais que se ilustre e aprecie as peripécias das figurinhas minúsculas e resistentes, o que é facto é terem sido os romanos os finais vencedores da invasão da Bretanha. As histórias dos pacóvios bretões são um pouco da luta de quem sempre perde as grandes batalhas e por isso valoriza uma escaramuça que lhe foi favorável ou uma freguesia que lhe presta lealdade.

Quando não podem com os invasores lá vem o inevitável Obélix e tudo é desbaratado. Invariavelmente termina com um repasto de javali e muita bebida.

Tudo isto me veio à cabeça após o recente discurso do líder da JS, Olavo Câmara, na reunião estival da juventude socialista. Uma verdadeira porrada no novo líder socialista Paulo Cafôfo. Aquele mesmo que por eles foi proposto candidato a presidente do governo regional. Um candidato derrotado de seguida eleito líder do partido. E logo vem o filho, em nome do pai, fixar os limites mínimos exigidos pela juventude socialista sob pena de ser despedido. O valente jovem deputado fixou os objectivos obrigatórios.

Olavo foi implacável com Cafôfo. Como faz o inigualável Obélix para quem não gosta ou o incomoda.

E, ao que se percebe, ainda não tem razão para não gostar.

Paulo Cafôfo não tem tido o benefício de boa estratégia, o que é agravado por tácticas absurdas e mal sucedidas. Ou por sua iniciativa ou por mau aconselhamento.

Desde logo a academia da JS devia ter sido realizada depois do congresso do PS. Nessa altura Paulo Cafôfo já seria líder do PS e certamente encerraria a reunião da juventude socialista aproveitando essa excelente oportunidade para reunir e motivar a sua base jovem. Ao contrário nem teve direito de resposta e defesa. E parece não ter tido prévia informação do que aí vinha.

Julgo que Paulo Cafôfo não quer perceber onde está metido.

O problema do PS é o próprio PS. O seu percurso ao longo destas quatro dezenas de anos em nada melhorou a sua intervenção política. É tudo muito complexo, contraditório, dividido, agrupado por famílias e sempre com liderança ambígua e frágil. Pegar no seu motor é acto de coragem com muita margem para o insucesso.

Um seu destacado dirigente e deputado regional afirmou que “o modelo e as estratégias do passado já não servem”. O PSD agradece a publicidade, pois foi exactamente o PSD que, há muito tempo, percebeu essa realidade. Toda a gente percebe que o actual PSD de Albuquerque nada tem de parecido com a anterior prática política. O modelo é outro, a estratégia é distinta e o rumo sem paralelo.

O problema principal do PS é que sempre percebe mais tarde que o PSD. E se tem algo de novo tem de apresentar.

Pior ainda foi alguém sugerir o sofrimento associado à resistência dos socialistas perante a supremacia social-democrata. Engana-se. Resistência que se louve é a dos portugueses à sucessiva destruição pela governação do partido socialista.

Arrepia verificar que no manifesto, ontem distribuído com o Diário, nem uma palavra sobre transportes ou mobilidade. Nem é prioridade na agenda do PS nem fez parte do discurso de Paulo Cafôfo. Custa a crer.

Começar uma nova liderança com uma discussão sobre nomeações de assessores é fugir às prioridades de uma Região que atravessa uma pandemia sem qualquer ajuda do Estado. É reavivar o escândalo dos “boys for the job” que o governo nacional do PS acautela aos seus militantes e respectivos familiares. E que tem no presidente do PS, Carlos César, o recorde de familiares com emprego público.

É um começo sem qualidade e nenhuma preparação. Muito menos ainda porque nenhum impacto.

PS (post scriptum e partido socialista): dói ver a palavra “região” escrita com minúscula inicial.

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