Madeira

"Cheguei no Tribunal já condenado"

No programa da RTP1, 'Depois do Crime', o Padre Frederico garantiu a inocência e diz que se não fosse padre, não teria sido julgado".

Foto Arquivo
Foto Arquivo

A entrevista com Padre Frederico Cunha, ainda a residir do Brasil depois da fuga do nosso país em 1998, foi o elemento central da  segunda parte do programa da RTP1, 'Depois do Crime', emitido esta noite.

Na conversa com a jornalista Rita Marrafa de Carvalho, o ainda padre mas que, hoje em dia diz ser artista plástico que se dedica à fotografia e cinema abstractos, assume que foi mesmo essa a condição do sacerdócio que o levou a julgamento. 

"Se eu não fosse padre, não teria sido julgado. E se eu fosse julgado, teria sido absolvido." Frederico Cunha

Recordando a fuga para o Brasil, naquela que era uma saída precária da prisão Vale dos Judeus, Frederico Cunha diz que foi sempre ajudado pelas autoridades consulares brasileiras, mas reafirma a sua inocência do crime a que foi condenado: a morte de Luis Miguel Correia. Diz que nunca conheceu a vítima. 

"Dizem que ele morreu a 1 de Maio. Nesse ano, a 13 de Maio, eu fui a Fátima e, no dia seguinte, fui para Évora onde estive com o bispo madeirense, D. Maurílio, e fiquei uns dias. Se eu quisesse fugir, eu teria fugido naquela altura". Frederico Cunha

Na entrevista, afirma que "não houve imparcialidade, não houve justiça" no Tribunal de Santa Cruz. "Cheguei no Tribunal já condenado", disse, acrescentando que "não havia nenhuma prova".

O programa também inclui declarações de Romeu Francês, advogado de Frederico Cunha, que afirma que este caso foi o mais marcante da sua carreira, sobretudo pelos erros na investigação e no julgamento. O advogado, e o proprio padre Frederico, referem-se à autópsia realizada pelo médico legista Pita da Silva e o facto da Polícia Judiciária ter pedido na atura uma segunda autópsia ao Instituto Nacional de Medicina Legal. José Sombreireiro foi o especialista que realizou a segunda intervenção, que discordava da primeira, mas que porém nunca foi ouvido pelo tribunal. Já o madeirense Pita da Silva declarou à RTP que admite que a morte de Luís Miguel pode se ter tratado de "um acidente".

Ainda no Brasil, país onde a mãe faleceu há 4 anos, Frederico Cunha diz que se mantém ligado à Igreja mas sem qualquer função ou cargo. "Tenho de ser muito discreto", diz. 

"A Igreja sempre me deu apoio, na pessoa de D. Teodoro." Frederico Cunha

Sobre o passado diz que a sua "pena, foi não ter saído da Madeira mais cedo". "Era para ter saído mais cedo", diz, porque a vida numa ilha não é fácil. "Há muita calúnia e muita fofoca. É um lugar muito difícil". 

Agora, diz levar uma vida normal como artista plástico. Tem realizado exposições em vários sítios e até vendido alguns trabalhos.

O crime pelo qual foi condenado e que chocou a Madeira nos anos 90, prescreveu em Abril de 2018.

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