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Uma revolução que há 200 anos chegou um mês depois à Madeira

A Revolução Liberal de 1820 assinala-se hoje 24 de Agosto, mas nessa altura a 'notícia' só chegou às ilhas a 25 de Setembro

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Num trabalho editado em livro a propósito dos 500 anos do Funchal, denominado 'Crónica de uma Revolução. A Madeira na Revolução Liberal, de António Egídio Fernandes Loja, recorda-se como, na altura, as notícias não corriam céleres. Hoje assinala-se os 200 anos de um evento que ajudou a moldar o Portugal actual.

Do livro editado a propósito dos 500 anos da capital madeirense, iniciativa marcada por diversos eventos nomeadamente culturais ao longo do ano 2008, é citado o autor que a dada altura refere: "A 24 de Agosto de 1820, os militares do Porto revoltam-se contra o Antigo Regime. Nesse mesmo dia, o Conselho Militar faz sair uma nova proclamação em que, para além do apelo à ordem, propõe a criação de um Governo Provisório que promova a eleição de Cortes representativas e que estas assumam a missão fundamental de redigir uma Constituição para Portugal."

Ora, com esta ordem da "Junta Provisória do Governo Supremo do Reino, que agrupa militares revolucionários e juristas simpatizantes do liberalismo, entra imediatamente em funções, com o propósito evidente de ganhar o apoio do resto do país ao movimento desencadeado no Porto". Diz ainda que "no dia 7 de Setembro chega ao Funchal o último barco vindo de Lisboa, ainda sem notícias da rebelião do Porto, mas a dia 21 desse mês, um ofício do Governador dirigido ao Conde de Arcos, refere ter recebido notícia daquela por dois passageiros de um paquete inglês em viagem para o Rio de Janeiro".

Só que a informação oficial, efectivamente, só chega quatro dias após este primeiro rumor. "Finalmente, a 25 de Setembro, a escuna 'Providencia' chega ao Funchal, trazendo notícias dos acontecimentos verificados no Continente e a 1 de Outubro o governador Sebastião Botelho informa, num longo ofício ao Conde de Arcos, ter tomado conhecimento dos acontecimentos em Lisboa. O mesmo inclui um impresso com a Proclamação dos Governadores e acrescenta: A notícia da rebelião do Porto, que os Inglezes passageiros no Paquete assoalharão logo, não fez nenhuma commução (sic) popular; foi ouvida friamente, e sem nenhum espírito de adhezão aos princípios revoluccionaríos". Acrescenta ainda esta curta nota de um livro com 511 páginas: "O silêncio é ilusório, na Madeira como em Lisboa."

Da página na internet, hoje desactivada do 'Funchal 500 Anos', conseguimos recuperar este texto, onde também se refere que "numa obra que se destaca pela abundância e consistência da suas fontes documentais, António Loja traça um retrato exaustivo e rigoroso sobre a forma como a Madeira viveu o período conturbado da Revolução Liberal, detendo-se demoradamente nos seus principais protagonistas e nas consequências que a passagem de um regime absolutista para um sistema assente na defesa dos ideais do liberalismo e na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos tiveram no desenvolvimento do arquipélago".
E acrescentam as palavras do autor: "Não é, decerto, uma terra de leite e de mel. Mas é, em todo o caso, uma ilha diferente num país diferente, uma vez excluída a violência do Antigo Regime."

O livro do madeirense licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas em Coimbra, que foi deputado à República (1976-79) e na Região (1980-84) foi lançado a 17 de Julho de 2008, no Instituto do Vinho e do Bordado da Madeira.

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