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Análise

As subversões do sistema

O governo regional deu sinais de estar preso por arames. Bastou a alteração deliberada de retirar a tutela da Invest Madeira a Rui Barreto para percebermos que, em determinados momentos, o que move a máquina do poder não é propriamente o interesse colectivo. Mesmo que posteriormente transformada em “lapso”, a decisão por agora adiada tem contornos ainda sob investigação jornalística e que revelaremos em breve, mas que indiciam navegação à vista, apetites desmedidos e descontrolo emocional.

O governo regional deu sinais de acautelar sem complexos os interesses de alguns, mas de ter pruridos em cuidar de todos da mesma forma, patrocinando assim a injustiça e a desigualdade de oportunidades. O processo de colocação de alunos nas escolas do Funchal foi, mais uma vez, melindroso. Basta ouvir o que contam os que gerem os destinos dos estabelecimentos de ensino, que apesar da apregoada autonomia são reféns das cunhas com carimbo oficial que nalguns casos obrigam a aumentar o número de turmas. Ou seja, todos os que se inscreveram estão colocados, mas houve critérios adulterados e esquemas engendrados para contornar o sistema. Há alunos que não deviam estar onde acabaram por ficar colocados, por essa não ser a sua área da residência, por não terem irmãos na escola, nem esta ser próxima do trabalho dos legítimos encarregados de educação.

“Uma vergonha”, ao nível do estado da relva dos Barreiros é o que se passa noutras dimensões da problemática realidade regional, por vezes camuflada com uns apoios a fundo perdido, promessas de promoções à pressa na carreira que não leva a lado nenhum e outras facilidades. Antes eram os trabalhos a mais e a revisão de preços que muito deram a ganhar. Agora, seja por ajustes directos ou por concursos à medida há expedientes que contemplam sempre os mesmos sem que ninguém questione a preferência e os custos. A lavagem de roupa hospitalar terá um acréscimo de 400 mil euros face ao anterior contrato e há apenas, no mercado, um prestador apto a corresponder às exigências do serviço. Se a exclusividade é um posto, o que é que mudou? Há mais roupa para lavar na era do descartável? O número de camas hospitalares aumentou? O detergente usado tem cheiro a rosas? O preço da água foi alterado sem aviso público?

O governo regional deu sinais de apatia, sendo incapaz de propor o que quer que fosse para integrar o Plano de Recuperação Económica elaborado por António Costa Silva. Não deixa de ser sintomático que só o deputado socialista Carlos Pereira o tenha feito. De resto é a gritaria que se conhece numa Região com clara aversão a planos estratégicos, talvez porque dão trabalho e exigem saber.

O governo regional continua a contestar nos outros aquilo que mais pratica, a desresponsabilização sem pruridos. Que legitimidade tem quem passa os dias a culpar Lisboa por tudo o que é incapaz de fazer para criticar o governo da República por fazer o mesmo em relação à União Europeia?

O governo regional insiste nos testes à chegada à Madeira e ao Porto Santo e só agora começa a equacionar outra formas de despistes da covid-19 na origem. Contudo, continua a ter apenas um laboratório protocolado em Lisboa, a ignorar outros pontos do País que quis seduzir e a não investir a sério numa promoção que faça valer a potencialidade de termos um dos destinos turísticos mais seguros, mesmo que não seja o único. Na semana passada presenciei a uma desmarcação feita à conta da falta da eficácia desta política sanitária. Era uma figura de Estado, capaz de influenciar terceiros na escolha, mas a esta hora no Alentejo!

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