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As monoculturas e as crises

A pandemia Covid-19, para além do problema sanitário, provocou uma profunda crise económica e uma extensa asfixia social na Madeira e no Porto Santo. E se há um dado objetivo quanto à realidade económica e social destas ilhas é o do arrasador impacto negativo da monocultura do turismo.

A situação vivida na Madeira e no Porto Santo é consequência da absolutização do turismo, encarado como a única mola impulsionadora de toda economia regional. As atividades produtivas não diretamente ligadas ao turismo foram deixadas ao completo abandono ou à estagnação. O frágil sector produtivo foi descurado, a balança comercial desta Região é cada vez mais deficitária e estas ilhas sobrevivem em função da acentuada dependência do exterior até em relação aos bens de primeira necessidade.

Aconteceu agora com o Covid-19 (poderia ter sido provocado por um outro fator impactante), tal como ao longo de toda a História da Madeira, a cada situação de monocultura seguiram-se crises de subsistências. Com a retração da economia do turismo seguem-se dias de miséria e fome.

Bem alertou o Dr. Rui Nepomuceno no seu ensaio histórico “As Crises de Subsistência na História da Madeira”, há muito tempo, no seu livro de 1994, expôs como depois da fase do trigo, após o ciclo do açúcar, no seguimento do ciclo do vinho, o povo passou miséria. O punhado de morgados e senhorios destas ilhas, os donos disto tudo, as elites económicas e políticas interessadas nos proventos e lucros obtidos rapidamente apostaram noutras ocupações rendosas. Resultante da situação de monocultura do turismo, de novo, neste ciclo económico a nossa história está condicionada pelos problemas das subsistências...

Voltaremos aos dias em que «as terríveis crises de subsistências e a dependência total dos grandes senhores» deixarão o povo «à mercê da esmola ocasional para lhe minorar a fome»?

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