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Supremo e covid-19 no centro do primeiro debate entre Biden e Trump

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O Presidente norte-americano, Donald Trump, e o candidato democrata às presidenciais, Joe Biden, vão enfrentar-se hoje em Cleveland, Ohio, naquele que é o primeiro debate frente a frente dos oponentes nas presidenciais de 03 de novembro.

De acordo com as indicações da Comissão de Debates Presidenciais, uma organização não partidária, os tópicos centrais do embate serão o Tribunal Supremo, a covid-19, o estado da economia, as questões raciais e a violência nas cidades, a integridade do processo eleitoral e o histórico político de ambos.

Estes pontos foram escolhidos pelo pivô da Fox News Chris Wallace, que vai moderar a discussão na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland.

São questões que estão na ordem do dia e que os especialistas consideram que deverão ser decisivas na eleição presidencial de novembro, em especial entre os independentes e indecisos.

No sábado, o presidente Donald Trump nomeou a juíza conservadora Amy Coney Barrett para ocupar a vaga deixada pela morte da progressista Ruth Bader Ginsburg no Tribunal Supremo, uma nomeação que terá de ser confirmada pelo Senado controlado pelos republicanos.

A questão é polémica porque, em 2016, o mesmo Senado impediu o então presidente Barack Obama de nomear Merrick Garland para o lugar de Antonin Scalia, no Tribunal Supremo, durante mais de nove meses.

No que toca à pandemia de covid-19, os Estados Unidos continuam a ser o país mais afetado pela doença, totalizando 7,14 milhões de infetados e 204 mil mortos, segundo as contas da Universidade de Medicina Johns Hopkins.

A crise sanitária e as várias fases de confinamento tiveram efeitos profundos na economia, com o número de desempregados a chegar perto dos 30 milhões no final de agosto.

Entretanto, os protestos de rua por causa da morte de afro-americanos às mãos da polícia continuam em várias cidades, quatro meses depois da erupção de manifestações quando George Floyd foi asfixiado por Derek Chauvin.

O primeiro debate, que decorre na madrugada à hora portuguesa, vai acontecer quando milhões de norte-americanos já receberam boletins de voto pelos correios e já tiveram oportunidade de votar por correspondência ou presencialmente, num movimento em massa de votação antecipada.

O voto postal, reforçado neste ciclo eleitoral por causa da pandemia de covid-19, tem sido alvo de críticas por parte do Presidente Donald Trump e motivado embates legais entre democratas e republicanos, que querem restringir a sua utilização em dezenas de estados.

Com o presidente a levantar suspeitas sobre potenciais fraudes no voto por correspondência, a integridade do processo eleitoral será um dos tópicos mais importantes da noite de debate.

De acordo com a média das sondagens nacionais, calculada pela plataforma FiveThirtyEight, Joe Biden (50,1% das intenções de voto) tem uma vantagem de sete pontos sobre Donald Trump (43,2%).

Este encontro entre os dois candidatos será replicado em mais dois debates, um a 15 de outubro em Miami, Florida, e o embate final a 22 de outubro, em Nashville, Tennessee.

Pelo meio, a 07 de outubro, os candidatos a vice-presidente - Mike Pence pelo lado republicano e Kamala Harris pelos democratas - vão encontrar-se em Salt Lake City, Utah.

Embora a pandemia de covid-19 tenha obrigado a mudanças significativas nas campanhas, com foco nos eventos virtuais e no apelo ao voto por telefone, os debates previstos entre os candidatos vão acontecer presencialmente e transmitidos ao vivo.

Pressão está em Joe Biden 

O especialista político Mitchell McKinney acredita que o debate presidencial que se realiza esta noite nos Estados Unidos da América (EUA) vai apresentar mais pressão para Joe Biden, com a difícil tarefa de derrotar o atual Presidente.

"Depende do próprio Joe Biden vencer ou perder", acredita o especialista em debates presidenciais Mitchell McKinney, que acrescenta que o candidato democrata parece entrar nas confrontações com uma vantagem na aprovação do público e com opiniões mais favoráveis.

O primeiro debate televisivo entre Joe Biden e Donald Trump tem uma audiência esperada de 87 milhões de pessoas, das quais apenas 5% ainda não estão decididas sobre quem querem apoiar na eleição de 03 de novembro, diz Mitchell McKinney, antigo conselheiro da comissão de debates presidenciais dos EUA e diretor do Instituto de Comunicação Política da Universidade de Missouri.

"Quando temos um Presidente incumbente que pretende obter mais um mandato, a questão principal do debate -- não importa sobre que tópico -- é se este indivíduo merece mais quatro anos", explicou o especialista numa conferência de imprensa 'online' nos Estados Unidos, a que a Lusa assistiu.

Joe Biden terá "a tarefa" de adversário e opositor que foca a atenção no historial do Presidente e nas falhas do mandato de 2016 a 2020.

Olhando para o estilo de comunicação e para as publicações nas redes sociais, o esforço de Donald Trump vai ser de diferir essas atenções negativas e continuar a atacar ou utilizar nomes e adjetivos pejorativos contra Biden.

Donald Trump tem, desde há muito, criado a narrativa de que Joe Biden tem problemas de memória, de atenção ou de energia, pelo que se houver uma gafe ou uma 'branca' do antigo vice-presidente no debate, só servirá "para alimentar e solidificar esta narrativa".

Mitchell McKinney acrescenta que já não haverá muito que Trump faça ou diga que choque o eleitorado, porque o comportamento do Presidente já é "típico" e conhecido.

O especialista defende que, nos três debates em que se vão opor os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos, a vitória não vai para quem mostrar mais inteligência e souber os factos e números de cor, mas sim para quem mostrar o poder da oratória, com mais força de expressão e de persuasão.

Os estudos de Mitchell McKinney no Instituto de Comunicação Política da Universidade de Missouri concluem que os debates presidenciais mudam a opinião dos indecisos: "os debates têm demonstrado serem capazes de atingir aquela fatia muito pequena de indecisos, descomprometidos [com partidos políticos] e persuasíveis".

Entre os 5% que veem o debate sem uma opinião formada, mais de metade desses toma uma decisão depois dos debates, assegurou o especialista. Esse grupo é também, segundo Mitchell McKinney, um dos que se mobiliza e vota mais, depois da "exposição à mensagem" televisiva.

"O debate pode ser consequencial, até nos resultados da eleição", apesar de que ter uma melhor performance no debate não garanta a vitória na eleição.

"Os debates geram mais conversação política entre cidadãos" do que um único evento de campanha e os impactos notam-se durante dias nas sondagens, notícias, comentários, nas redes sociais e até nos programas de entretenimento e comédia, reflete o professor da Universidade de Missouri.

Com as tecnologias, o debate pode ser "experienciado" por muito mais pessoas do que aquelas que vão mesmo assistir aos 90 minutos na noite de terça-feira (madrugada de quarta-feira em Portugal).

É nos debates contra o oponente e com atenções mais focadas que se vê o candidato "real" e "autêntico", pela forma como reage e fala, sustenta Mitchell McKinney.

Quem assistir poderá também encontrar uma "forma de comunicação credível e útil", porque os candidatos não podem controlar as mensagens que vão surgir ao longo do debate, com segmentos de 15 minutos dedicados a diferentes tópicos e com uma conversa orientada pelo jornalista moderador (Chris Wallace no debate desta noite).

Donald Trump e Joe Biden vão voltar a enfrentar-se em mais dois debates televisivos, a 15 e 22 de outubro.

Os candidatos a vice-presidente, Mike Pence e Kamala Harris, também têm um debate televisivo, a 07 de outubro.

Joe Biden fez parte de um momento histórico dos debates televisivos como candidato a vice-presidente em 02 de outubro de 2008, contra Sarah Palin, a única vez da história dos EUA em que um debate vice-presidencial teve mais audiência do que um debate entre candidatos a Presidente, na altura Barack Obama e John McCain.

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