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Coincidência ou consequência?

Diz-se que há uma coincidência quando dois factos acontecem simultaneamente, no tempo e/ou espaço. E a consequência aplica-se quando um facto foi provocado por outro. Simples!

Vem esta introdução a propósito da situação do edifício do hospital da Calheta, propriedade da Santa Casa da Misericórdia da Calheta (SC). Foi alvo de notícia e depois de inúmeros posts e comentários nas redes sociais, onde vozes tão implacáveis quanto ignorantes ou de má fé verberaram contra os dirigentes da SC.

Antes de prosseguir, tenho de informar que pertenço ao conselho fiscal da SC e, consequentemente, tenho algumas informações sobre a matéria. E, sobretudo, sinto-me incomodado quando pessoas que eu julgava mais assertivas e ponderadas embarcaram facilmente no maldizer.

Antes de mais, a construção encontra-se concluída. Foi, na sua maioria, objecto de apoios comunitários. O restante foi suportado pela SC. Não caiu do céu. E, fique claro: qualquer projecto que tenha mérito económico e social pode vir a ser co-financiado pelos fundos comunitários, como este foi. A parte não financiada foi suportada pelas poupanças que a SC tem feito ao longo dos anos.

Apesar de terminadas as obras, não quer dizer que o Hospital pode entrar em funcionamento. E a SC não tem competências nem responsabilidades para reconhecer ou atribuir a qualificação de hospital ao edifício. Este reconhecimento é uma consequência de outros factos. Não basta a construção estar concluída.

Só foi possível avançar com o projecto porque a SC tinha fundos para suportar a parte não financiada. E isto resultou da gestão do património da SC ao longo de muitos anos. De gestão criteriosa e zelosa dos seus responsáveis. Portanto, apesar de eleitos estatutariamente, nenhuma direcção tem o direito de dispor a seu bel prazer do património da SC. Têm o dever de o gerir zelosa e criteriosamente. Por outro lado, o jornal oficial publicita os arrendamentos contratados pelo Governo Regional. E aí encontramos dezenas de concursos para arrendamentos ao longo de toda a região. Por que será que a SC não tem direito a um arrendamento nas mesmas condições e critérios? Se não o for, os actuais responsáveis poderão vir a ser acusados, no futuro, de não ter gerido o património da SC de forma criteriosa e zelosa. Bastará comparar preços das rendas que são públicas.

Finalmente, o papel do Estado é o da protecção social dos seus cidadãos. Mas, também se sabe, que as instituições locais têm uma proximidade que lhes confere um acréscimo de capacidade na solução dos problemas sociais. Este papel também tem sido desempenhado pela SC. Mesmo quando os gastos com as valências são bem superiores ao seu financiamento, a SC nunca abandonou o projecto ou reduziu a sua actividade social. Nessa altura, não ouvi nenhuma dessas vozes intransigentes clamar contra o incumprimento do compromisso assumido. E isso só foi possível com uma gestão criteriosa e zelosa do património levada a cabo pelos muitos voluntários que durante anos e anos dedicaram o seu tempo, conhecimentos e esforço à SC.

Portanto, antes de abrir a boca ou a mão à escrita, para falar do que não se conhece, ponderemos bem os factos e não confundamos as coincidências com as consequências.

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