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Somos todos Porto Santo

Temo pelo Inverno sobretudo pela falta de medidas específicas para o setor do Turismo

Sempre fui muito crítico de todos aqueles que apenas se lembram de pensar ou opinar sobre o Porto Santo quando lhes convém. Refiro-me naturalmente às forças vivas da Região, mas em particular aos nossos governantes. E tal ocorre normalmente em dois períodos do ano: no mês de Janeiro e no mês de Agosto.

Em Janeiro, porque a ausência de ligação marítima inter-ilhas costuma ser o mote para uma certa desresponsabilização por parte da classe governante, mas sobretudo para justificar o injustificável. A sazonalidade crónica e a falta de medidas para a esbater não se fazem sentir apenas durante 3 semanas de Janeiro, mas sim de Novembro a Maio, criando evidentes constrangimentos à atividade económica, ao desenvolvimento e à manutenção dos níveis de empregabilidade ao longo de todo o ano, gerando incerteza junto da população que procura manter estabilidade no emprego e nos seus rendimentos.

Costumo dizer que reconhecer a existência desta sazonalidade é o primeiro passo para a esbater. Depois, se forem criadas regras de exceção para uma ilha com caraterísticas muito específicas, poderemos caminhar no sentido de proporcionar mais e melhores oportunidades para os jovens, gerar mais emprego, captar mais investimento, e desenvolver o Porto Santo de forma estruturada. Entre estas regras, destaco a reconversão e maior flexibilização de apoios públicos que hoje apenas permitem reduzir a atividade e os custos com o pessoal, no caso das empresas, e que poderiam, sem onerar ainda mais os cofres públicos, ser canalizados para apoios à formação e qualificação dos recursos humanos na denominada época baixa. Tal permitira elevar o padrão de qualidade da oferta do destino, no caso do Turismo, criando condições para a subida da rentabilidade das empresas e aumentando a atratividade para novos investimentos. Em simultâneo, a criação de incentivos específicos à fixação de pessoas, sobretudo jovens e famílias, permitiria ao Porto Santo ganhar escala na sua pequena economia local.

A estratégia para garantir um desenvolvimento integrado, estruturado e sustentado no tempo, não pode depender de meros caprichos, que ora fazem depender do Presidente do Governo o pelouro do Porto Santo, como passados 4 anos, o transferem para um nível inferior. Não pode igualmente depender de projetos que pretendem transformar a ilha num local que não utilize combustíveis fósseis, mas onde não se explica à população local e aos visitantes quando deixarão de poder utilizar a sua viatura, ou aos empresários de hotelaria quando deixarão de poder de utilizar gasóleo para as caldeiras de aquecimento da águas quentes, apenas para citar dois exemplos. Não pode depender de medidas avulsas, atribuindo o subsídio de mobilidade ao longo de todo o ano, como proposto pelo PS-Madeira, mas dizendo logo de seguida que será apenas este ano.

O desenvolvimento do Porto Santo, e em especial do seu Turismo, depende de ligações aéreas diretas do exterior. Ao longo de anos foram desenvolvidos mecanismos e incentivos vários, que permitiram criar inúmeras novas rotas de diversos mercados: Milão, Verona, Londres, Manchester, Birmingham, Varsóvia, Paris, Bruxelas, Dusseldorf, Madrid, Santiago de Compostela, Copenhaga ou Billund. Destas rotas, potenciadas pela iniciativa privada que se juntou à ANA e à AP-Madeira para as promover e garantir, já não existem mais de metade. E tal não se deve à pandemia, mas sim à falta de capacidade e de estratégia para as manter, dando respostas adequadas e atempadas aos operadores turísticos que nelas apostaram e também investiram. Já em plena pandemia, o bom exemplo vem de um privado, que assumiu risco numa operação do Continente para o Porto Santo. É, pois, imperativo estreitar relações com a ANA e com os operadores, para rumar no sentido que o Porto Santo necessita.

Neste mês de Agosto, pese embora os hotéis (os que abriram) se mantenham a níveis de ocupação muito inferiores a verões passados, fala-se de retoma e de recuperação, camuflada por medidas como o layoff ou o recurso às linhas de crédito. Temo pelo Inverno, quer no Porto Santo, quer na Madeira, sobretudo pela falta de medidas específicas para o setor do Turismo. É certo que algumas dependeriam do todo nacional, mas é igualmente correto dizer que a Autonomia do nosso poder executivo tem a obrigação de governar e implementar medidas regionais que defendam a Região Autónoma da Madeira e toda a população. Neste Inverno, a ilha da Madeira irá infelizmente sentir o que é ser Porto Santo e chegar a Outubro com um enorme grau de incerteza e insegurança sobre o futuro. Somos hoje, mais do que nunca, todos Porto Santo!

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