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Felicidade

Como toda a gente pretende “ser feliz”, filósofos, sacerdotes, augures, psicólogos, psiquiatras, ao longo dos tempos, têm procurado definições de felicidade, e “receitas” para a encontrar

A generalidade das pessoas, a ser-lhe inquirido o que deseja ser na vida, na maior parte das vezes exprime um desejo de contornos confusos e pouco claros: “Quero ser feliz!”.

Apesar da pouca clareza do desejo, toda a gente pensa entender o que o interlocutor pretende.

Debrucemo-nos, um pouco, sobre “felicidade” começando pela etimologia da palavra. “Felicidade” chegou à língua portuguesa do grego “PHYO” (com a conotação de “fecundo”, “produtivo”) através do latim “Felicitas” (de “FELIX”, “Feliz”).

Se procurarmos nos dicionários encontraremos, entre outras, a definição: “um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietação são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até à alegria intensa ou júbilo.”

É possível encontrar diferentes abordagens ao estudo da felicidade nas diversas disciplinas do saber: psicologia, filosofia, religiões.

Como toda a gente pretende “ser feliz”, filósofos, sacerdotes, augures, psicólogos, psiquiatras, ao longo dos tempos, têm procurado definições de felicidade, e “receitas” para a encontrar. Em ética, preferencialmente, utiliza-se o termo “eudaimonia”, para as emoções associadas à felicidade. Os filósofos tendem a associa-la ao prazer, bem-estar, paz interior.

Qualquer que seja a perspectiva sob a qual se considere a felicidade, o que claramente não é verdade, na definição dada no quarto parágrafo, é a sua qualidade de “estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico”. Na frase, o que claramente não é garantido é o qualificativo de “durável”.

Como estamos a ver, a exemplo da definição de Saúde, definir rigorosamente Felicidade não é, de todo, fácil. Mesmo considerando factores físicos e psicológicos.

Apesar da utilização reiterada de diferentes métodos e instrumentos, de que é exemplo o Questionário da Felicidade de Oxford, medir o nível ou a intensidade do sentimento de felicidade de alguém é, praticamente, impossível. Até pelo facto de o despertar do tal estado de plenitude física e psíquica “em que o sofrimento e a inquietação são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até à alegria intensa ou júbilo” variar de pessoa para pessoa e, mesmo em cada um de nós, não ser constante ao longo da vida nem em todas as circunstâncias.

O zoroastrismo, doutrina religiosa criada por Zoroastro, profeta iraniano, que terá vivido entre os séculos XVII e XIV a.C., cita a resposta da divindade Aúra-Masda à pergunta de Zoroastro sobre o que seria a felicidade na Terra. Terá respondido: “um lugar ao abrigo do fogo e dos animais ferozes; mulher; filhos; e rebanhos de gado”.

Na China antiga, enquanto Lao-Tsé dizia ser a felicidade a harmonia na vida alcançada através da união com o “tao”, Confúcio enfatizava o dever, a cortesia, a sabedoria e a generosidade.

Para o Budismo, a felicidade suprema só é obtida pela superação absoluta do desejo em todas as suas formas.

Para Aristóteles, a felicidade é uma actividade da alma de acordo com um princípio racional, isto é, uma actividade de acordo com a virtude.

Actualmente tendemos a entender a felicidade como ligada ao “culto do indivíduo”, à autoestima e à qualidade de vida. Daí existirem países, como o Dubai, que já têm um “Ministério da Felicidade”.

O que julgo importante, para além de uma definição precisa de felicidade ou do questionamento acerca da sua perenidade, é vivermos momentos, o mais repetidos que for possível, em que nos sentimos bem connosco e com o mundo e temos prazer no que somos e no que fazemos, contribuindo simultaneamente para o bem de todos.

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