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Os Fachos nos palcos da arte popular

As candidaturas às 7 maravilhas de Portugal da cultura popular de 2020 encontram-se ao rubro por todo o País e pelas suas Regiões Insulares, mormente, pela oportunidade que a televisão publica está a proporcionar na divulgação das nossas tradições, rituais e costumes, engradecendo e valorizando assim as identidades coletivas, num mundo cada vez mais globalizado. Neste contexto, a diferenciação dos países, das suas regiões, dos seus concelhos e dos seus lugares pauta-se pelo que conservam de mais genuíno e popular, principalmente, no tocante às suas manifestações intrínsecas que descrevem e cantam a resistência dos seus valores identitários.

Em Machico, a identidade das suas gentes, fez-se através da sua história preenchida de lutas sociais e políticas, de costumes e de rituais etno-religiosos que, em parte, desembocam na esteia arte popular, com os Fachos à proa, candidatos às 7 maravilhas da nossa cultura popular imaterial. Uma candidatura na categoria de rituais e costumes que, de ano para ano, se afirma com todo o mérito nos palcos da arte popular, nomeadamente dentro do espaço cultural da nossa Região e que, infelizmente, tem gerado alguma controvérsia quanto à sua paternidade. Polémica que pretendo desanuviar se atendermos a que os Fachos, passaram há muito, a serem considerados a joia da arte popular machiquense. E para os menos esclarecidos, a palavra popular tem origem etimológica do latim popularis, “do povo”, que pertence ao povo; que concerne ao povo e que recebe aprovação da maioria da população. Depreende-se assim que, na generalidade, as criações do homem que expressam sentimentos individuais ou coletivos recebem, cedo ou mais tarde, aprovação pela maioria das gerações sucedâneas, as quais têm a responsabilidade de continuar a ergue-las como bandeiras defensivas das suas mais valias culturais.

Porém, atendendo à cronologia do longo percurso dos Fachos, estes, remontam aos tempos antes dos nossos avós; quando o Porto Santo e Machico se comunicavam através de fogueiras, numa missão de protetora das suas populações das pilhagens e dos saques dos corsários e de outros guerreiros do mar. Entretanto, com o passar dos tempos, as artes populares madeirenses sofrem evoluções diversas, como também evoluíram essas fogueiras na sua livre geometria para representações de arte de fogo, que traduzem a espiritualidade e a aridez do trabalho de gerações de machiquenses. São, todavia, manifestação de raiz popular que envolveram também, em tempos idos, as populações dos sítios do Poço do Gil, Ribeira Seca e da Ribeira Grande, cujo contributo foi indispensável para se perpetuassem no tempo os Fachos da nossa Terra.

Presentemente, mantêm o núcleo da sua essência em formas de sacrários, de cruzes, de caravelas da nossa epopeia marítima e de traineiras das safras penosas do atum ou mesmo do gaiado. Mantêm ainda como nunca outra atividade sociocultural conseguiu: a imprescindível unidade do povo de Machico com adesão, cada vez maior, de jovens e de adultos das comunidades mais próximas que, voluntariamente, oferecem a força dos seus braços para que a acender do Fachos na Festa do Senhor e sejam sempre um marco relevante na identidade de ser machiquense em torno da multiculturalidade da arte popular dos povos do mundo.

Convicto que Machico se valoriza e se divulga com a candidatura dos Fachos às 7 maravilhas de Portugal da cultura popular 2020, facto que assegura a continuidade dos apoios, sobretudo, financeiros dos organismos públicos, privados e da própria paroquia de Machico, a fim de que, esta nossa tradição continue a desempenhar um relevante serviço ao Município na consolidação da sua identidade nesse espaço privilegiado de conhecimento e de cultura da divulgação das 7 maravilhas de Portugal.

Severino Olim

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