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Colocando o dedo na ferida

Ao contrário do que alguns pensam, a falta de carácter é registada na memória e tem um efeito perverso na confiança das pessoas e nas suas reações

Quando se pensa que em política o que conta é apenas o trabalho realizado em vésperas de eleições e que tudo o resto é esquecido, cometem-se erros irreversíveis e fatais.

Enganam-se aqueles que pensam que as jogadas e jogatanas orquestradas entre uma eleição e outra passam ao lado da população e que tudo podem fazer. Que podem usar a confiança do voto concedido para negociar privilégios pessoais.

Ao contrário do que alguns pensam, a falta de carácter é registada na memória e tem um efeito perverso na confiança das pessoas e nas suas reações.

Confesso que estou curiosa para saber como vão reagir os eleitores que votaram no ano passado no CDS/PP após a linha de orientação que o dr. Rui Barreto está a seguir e com as declarações que proferiu esta semana afirmando “sentir orgulho de ter na Presidência do Governo alguém com intuição e sabedoria. (…) Um reconhecimento ao nosso comandante, o dr. Miguel Albuquerque”. A coligação deu direito ao CDS ter um novo comandante. Que CDS/PP temos agora, afinal? Como tudo mudou…

A este propósito, lembrei-me do PTP e da sua gênese de luta contra o PSD-Madeira. Quando após as últimas eleições autárquicas de 2017, o PTP viabilizou uma Mesa PSD-Madeira na Assembleia Municipal do Funchal, lembro-me de ter pensado que esta decisão seria provavelmente o fim do PTP nas eleições regionais. E, efetivamente, o PTP foi castigado.

Do mesmo modo, imagino a desilusão dos eleitores que votaram no PAN no ano passado quando viram o cabeça de lista desse partido sair para reintegrar a lista de militantes do PSD-Madeira. Mais um que se aproveitou de um partido para sua projeção pessoal? Qual foi o verdadeiro interesse desta campanha?

E o que dizer da postura adotada pelo Chega após as eleições regionais? Agora até querem uma coligação com Miguel Albuquerque para uma candidatura à Presidência da República. E neste desiderato quem seria o verdadeiro comandante da empreitada? Afinal, qual é o projeto político deste partido para a nossa Região? Será o Chega um partido satélite do PSD?

Nisto o projeto do “Aliança” foi mais honesto com os seus eleitores. Antes mesmo de ocorrerem as eleições regionais, o seu líder nacional assumiu que existindo necessidade de uma coligação, faria a coligação com o PSD-Madeira e não com outro partido. A nível regional, a direção do partido negou tal intenção, mas o que não falta neste mundo da política são pessoas que são usadas para serem cara de cartaz para depois serem abandonados e descartados no lixo. O piscar de olhos contínuo de Santana Lopes ao PSD faz-me desconfiar dos seus verdadeiros propósitos. Estaremos aqui também perante um outro partido satélite do PSD?

As próximas eleições autárquicas serão um novo momento para as pessoas expurgarem as suas desilusões e irritações. Ao contrário do que muitos pensam, a população está atenta.

Ninguém imaginaria que 6 meses após as eleições regionais viveríamos uma situação de pandemia na nossa Região. E agora que vivemos, mantemos a nossa convicção no partido que votamos em setembro do ano passado?

A pandemia alterou-nos os planos para os próximos tempos. Como consequência, sabemos que vivenciaremos uma grave crise económica e financeira que será violentíssima na nossa terra. Salvar empregos é primordial.

Pedidos de verbas adicionais para a Madeira foram feitos e serão transferidos para a nossa Região. Espera-se é que as verbas transferidas sejam usadas efetivamente naquilo que a nossa economia precisa. Sem apoio às empresas, arriscamo-nos a uma explosão de falências que levarão para o desemprego grande parte da nossa população.

Não será admissível campanhas autárquicas camufladas com vista a ganhar votos. O dinheiro é escasso. Saibamos ser responsáveis com a utilização dos dinheiros públicos. Não temos dinheiro para devaneios. É tempo de sermos humanistas na aplicação do dinheiro e não tecnicistas.

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