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Massa crítica, sem ela não chegamos lá …

Se olharmos para o passado, verificamos que a Região Autónoma da Madeira (RAM) teve ciclos económicos ligados a atividades específicas que a colocaram no comércio mundial. Foi a estreante época do trigo, seguiu-se a do açúcar, depois a do vinho madeira, e atualmente estamos, ainda, na era do turismo. Já durante esta última, foi, entretanto, criado o Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM). A diversificação económica nunca foi um forte na gestão pública da RAM. A sua condição geográfica insular, assim como a sua reduzida escala é com certeza uma desvantagem, e numa era como a atual, onde por via da globalização se trabalha para as massas populacionais, ter poucos consumidores é um fator que desincentiva o potencial agente económico. Não podemos, no entanto, esquecer que a personalização de produtos e serviços de qualidade continua a ter mercado, sendo aliás um segmento onde está instalada a população mundial com maior poder de compra. Chegados aqui, é evidente que a RAM está refém da recorrente “monocultura” económica que historicamente cultivou, pois na atualidade, alimenta-se praticamente do sector (alargado) do turismo, colocando o governo, como é visível na atual crise pandémica de COVID19, principalmente ao serviço da atividade económica dominante. O CINM, embora seja uma fonte de receita fiscal não desprezível, não gera, pelo menos diretamente, o número expectável e considerável de empregos. Não se vislumbram soluções de fundo, limitando-se a ação governativa a injeções de dinheiro dos contribuintes na economia, leia-se endividamento público, em lugar de decidir alterar o paradigma económico baseado em estudos aprofundados e elaborados por equipa onde o conhecimento já se converteu em sabedoria. É assim qualquer coisa como ir empurrando com a barriga, o problema de fundo que temos em mão. Tal não significa que em face da pandemia que se enfrenta, haja alternativa, no imediato, a que não se injete dinheiro na economia e é manifesto que há uma boa intenção subjacente ao desempenho do governo. No entanto, é aquilo a que chamo de solução “penso rápido”. Atenua, maquilha, mas estruturalmente não resolve o essencial. Paralelamente, é urgente que se pense a longo prazo. Afigura-se-me de importância crucial, que o governo regional da RAM, nomeie uma comissão, um grupo de trabalho, ou chamem-lhe o que quiserem, constituída por um painel de investigadores e pensadores, que enquanto possuidores de massa crítica, e atendendo às especificidades da região, em conjunto produzam um documento de natureza estratégica e operacional que forneça linhas orientadoras para atuação do poder político nos domínios decisivos da sua ação, particularmente na área económica, já que esta, por via da sua tentacularidade, é um dos pilares sustentatórios de uma sociedade democrática. Foi, entretanto, noticiado que o Conselho do Governo regional, habitualmente reunido em plenário às quintas-feiras, no passado dia 23 de julho, “incumbiu o secretário regional de Economia de promover as diligências necessárias à contratação pública destinada à elaboração do ‘Programa de Recuperação da Economia da Região Autónoma da Madeira’ (PRERAM)”. É no meu entender uma boa notícia, se se tratar de um estudo onde a informação a recolher seja efetuada por técnicos, mas desde que essa informação seja depois tratada, não por um conjunto de tecnocratas “altamente qualificados”, pois o resultado, como habitual, será mais do mesmo, mas por quem expõe à luz do dia o que aparentemente está oculto, pois para a obtenção de resultados inovadores e perfilados com as exigências da sustentabilidade, é preciso saber pensar pela própria cabeça, independentemente dos conceitos e teorias há muito instalados no universo económico mundial. Não se trata de menosprezar o presente, mas da necessidade de reinventá-lo. Tarda que se olhe atentamente, por exemplo, para o enorme potencial da RAM no domínio da “economia verde”, uma região que possui a maior e mais bem conservada mancha territorial da Laurissilva do mundo, essa relíquia do Terciário, ocupando uma área de cerca de 15.000 hectares, que é protegida por legislação regional, nacional e internacional e foi considerada Património da Humanidade, em 1999, pela UNESCO. Aliás, essa falta de atenção na enorme importância deste património foi (é) visível, aquando da atribuição do nome do aeroporto da Madeira a um futebolista, quando é o local ideal para batizar e promover mundialmente como “Aeroporto da Madeira - Capital da Laurissilva”, como aliás já o referi noutros escritos. 

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