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Projetar o futuro no presente

Não há desculpa para a ignorância perante a evidência, nem para a inacção complacente perante o risco

As férias são por excelência um período de descanso mas também de reflexão sobre tudo o que nos preocupa mas também de denunciar os caminhos perversos de uma política que nos conduz ao desastre. Reflexão também em como participar, neste ano de eleições presidenciais, numa política para a salvação pública: uma nova esperança.

Depois de ultrapassada a crise pandémica a necessidade para dar um passo em frente, se queremos mudar o que não nos agrada na nossa vida social e política e para reforçar a atenção para a mobilização cívica.

Através de propostas concretas temos de fazer a revitalização da solidariedade, o desenvolvimento da economia plural, que favoreça pequenas e médias empresas e o impulsionar de um novo modelo de consumo, assim como a implementação da reforma laboral baseada nos princípios da racionalidade e democratização do ensino, sempre que necessário, a procura do bem-estar que tem grande importância para as pessoas.

É verdade que Portugal poderá estar preso numa armadilha de prolongado empobrecimento relativo. E, na ausência de acções apropriadas, o ajustamento automático dos desequilíbrios acumulados nestes últimos anos poderá conduzir a uma profunda e prolongada recessão económica. Havendo soluções, é indispensável para resolver o problema, primeiramente percebê-lo.

De facto, não há desculpa para a ignorância perante a evidência, nem para a inacção complacente perante o risco. Seremos julgados pelas gerações vindouras pela forma como agora fomos capazes de mudar de rumo.

Não há desculpa para a ignorância perante a evidência, nem para a inacção complacente perante o risco. Jacques Attali escreveu na edição portuguesa da sua “Breve História do Futuro” que Portugal não soube em nenhum momento reger-se pelas leis da história do futuro… e que o nosso futuro dependerá “da forma como o país souber respeitar (aquelas) leis e seguir as regras do sucesso: criar um ambiente relacional; suscitar o desejo de um destino comum; favorecer uma criação mais livre; construir um grande porto e uma grande praça financeira; fornecer aos cidadãos, de modo equitativo, formação nos novos saberes; dominar as tecnologias do futuro; elaborar uma geopolítica; constituir as alianças necessárias. Portugal encontra-se numa posição geográfica crucial.

Apesar de todas as transformações que testemunhamos, a educação continua a ser a verdadeira esperança para promover um real desenvolvimento, que seja simultaneamente social, económico e ecológico. O ser humano tem necessidade de transformar e modificar o mundo em que vive, de utopias limam-se os horizontes de amanhã. Isto se permitirmos que elas aconteçam. Por isso a educação é, e sempre será o melhor caminho de colectivamente contribuirmos para transformar sonhos em realidades, para convertermos as utopias em compromissos éticos devidamente enraizados, a partir dos quais poderá florescer a esperança de virmos a ter um mundo melhor e sociedades mais justas. Projectar o futuro no presente pode parecer um enorme desafio que só pode ser concretizado se aceitarmos a evolução que o mundo tem tido.

A Covid-19 não pode ser vista como tendo consequências positivas, mas como uma oportunidade para tomar consciência que as catástrofes acontecem e que temos de estar preparados para situações limite.

Porque, a pandemia não é, infelizmente, um episódio de curta duração. E à Covid-19 podem seguir-se outras, se não invertermos as políticas que estão a destruir os ecossistemas e a ameaçar o planeta. A pandemia revela e intensifica tudo o que não esta bem antes da sua erupção. No caso de Portugal, as desigualdades, a pobreza, a dívida, ou a injustiça laboral, fiscal e social, organizadas por décadas de enfraquecimento dos poderes públicos e do Estado Social. O que vai acontecer, neste momento em particular, se não actuarmos sobre as causas estruturais das desigualdades que ameaçam, cada vez mais, a coesão social e territorial? Quais as consequências, num país crescentemente polarizado, de aprofundar fracturas com cenários de guerra povoados por inimigos, chefes ordeiros e outros que não sabem impor a ordem, ou soldados mobilizados para o terreno? Vai-se identificar quem é “carne de canhão” ou parte-se para metáforas de guerra esperando que elas sejam limpas?

A guerra desumaniza. A democracia humaniza. A democracia tem de garantir as condições estruturais para os seres humanos viverem vidas dignas e em igualdade de oportunidades. Tem de ser exigente consigo própria e com os seus cidadãos, convocando-os, tanto mais quanto maior for a crise, para fazer escolhas informadas e que tenham em conta, sem falsos consensos, o interesse comum.

Vamos transformar esta crise numa oportunidade para uma mudança positiva e para um futuro mais igual para todos.

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