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(Re)pensar a Madeira

A Madeira é dividida por onze concelhos desde há muito, mas o Mundo mudou muito e nada na organização concelhia evoluiu.

Os dados mais recentes indicam que em 2018 os habitantes do Funchal, Santa Cruz e Câmara de Lobos (apenas 3 dos 11 concelhos da Região) concentravam 72% da população. Estamos quase a poder afirmar que em cada 4 madeirenses, 3 vivem num destes concelhos. E sempre foi assim? Claro que não. Em 1981 - antes das principais redes viárias que foram feitas, e bem, na Madeira - esses três concelhos reuniam 66% da população. Isto quer dizer que se acentua ano após ano a concentração excessiva de população nesta reduzida área da ilha. Se fossemos um barco, já teríamos certamente ido ao fundo.

Repensar a Madeira implica não apenas visão (para lá do mandato) mas coragem política; uma coragem que não tenho vislumbrado nas últimas três décadas e que não se perspetiva num futuro próximo. Mexer na organização concelhia implica ir contra a vontade de alguns, retirar privilégios seculares de outros e aglomerar em um aquilo que se dispersa por três ou quatro. Pode à partida ser insensato ou injusto, mas se não o fizermos é o nosso futuro que está em causa.

A Madeira pode perfeitamente ser organizada em 4 áreas metropolitanas, que aglomerem os 10 concelhos da Madeira (o Porto Santo é uma ilha/concelho). Essas 4 áreas metropolitanas aglomerariam ao mesmo tempo concelhos do norte e sul da Madeira. O gestor político de cada área metropolitana teria de gerir dentro da sua área as “tensões” entre norte e sul, tendo obviamente de distribuir de forma equitativa os investimentos. Não se trata de criar novos patamares de decisão política, mas antes de reorganizar a gestão e ocupação do território, que mudou muito e não é a mesma de há 20 ou 30 anos atrás.

Só com uma visão menos míope, mais ampla e menos avessa à mudança se poderiam instalar secretarias regionais fora do Funchal, levando para outras paragens massa crítica e população. Se as redes viárias nos aproximaram, foi para facilitar que isto acontecesse, não para nos continuarmos a aglomerar cada vez mais na baía principal da ilha nas suas redondezas.

A Madeira faz com o Funchal e com os seus arredores aquilo que Lisboa faz com o país. Pelo nosso futuro, é hora de inverter a tendência.

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