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Mosca na boca

O que é igual, cá e lá, é o silêncio. Que cheira a medo como se, reclamando, nos fossem penalizar

Muitas vezes somos levados a acreditar que o silêncio é de ouro. Nem que seja porque, como diz o povo, em boca fechada não entra mosca. Vou arriscar, no entanto, porque me sinto a ficar surdo com tanta falta de vozes a clamar por outra lógica.

Não posso aceitar que alguém com a responsabilidade de um 1º ministro venha defender, perante uma situação como a que vivemos, que os profissionais do Turismo devem reciclar-se mas é e pensar em ir trabalhar para o sector social, que aparentemente está necessitado de gente.

Curiosamente, não pensou o mesmo em relação à Comunicação Social, a quem tratou de atribuir subsídios a fundo perdido mediante critérios que aqui não irei discutir, até porque gastaria caracteres que depois se calhar me vão fazer falta. Também não achou bem dizer o mesmo a quem é político profissional (e são muitos, como ele aliás!) e estará, portanto, tão ou mais habilitado a lidar com outras pessoas como supostamente nós estamos.

Tratar um sector com a importância que este tem para a criação de riqueza e emprego desta forma sem que uma voz se levante não me parece admissível e não “encarneirarei”, mesmo neste quadro em que, de mão estendida, nos vemos obrigados a sobreviver com as migalhas que vão fazendo cair no nosso prato.

Alguns dirão que estou a ser pobre e mal-agradecido e que não posso deixar de lembrar-me do que já recebi de contributos públicos para ainda não ter fechado a porta.

A verdade é que não consigo esquecer-me do que fui pagando ao longo deste mesmo período para que, contrariamente ao que me sucede e aos meus colegas, outros continuem a receber os seus vencimentos a 100%, apesar de não terem trabalhado. Com direito a feriado de São Rally pelo meio e tudo!

Aqui pelo nosso burgo, não ouvi ninguém dizer o mesmo. Era o que faltava! Mas a inação existe na mesma proporção, dizem-me que por falta de meios para poder sustentar outra lógica.

Acredito nisso se vir cair projectos esdrúxulos como o aumento do Porto do Funchal ou parar outras obras inúteis, mas as parangonas que leio continuam a indicar o contrário. Será assim que vamos inverter o que será um drama social, se o sector turístico colapsar?

O que é igual, cá e lá, é o silêncio. Que cheira a medo como se, reclamando, nos fossem penalizar. Vale-me que tenho um cão… E mesmo arriscando que uma mosca me invada as entranhas, mais vale aqui deixar expresso quão difícil é o quadro actual, que não vai inverter-se com esta boa nova do mercado inglês; é preciso bem mais do que isso.

Com responsabilidade e sentido cívico mas sem temores, saibamos todos ouvir e ser ouvidos, quebrando esta nuvem de apatia que paira sobre nós. E recicle-se quem quiser; eu não estou nessa! Por enquanto…

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