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Caiu a face da máscara

Já se viu que falta “ciência” e “lei” nalgumas das medidas que a RAM pretende implementar no actual ambiente pandémico do Coronavírus. Todavia, à falta desses aspectos técnicos e jurídicos, deveria prevalecer sempre algum bom senso enquanto reserva de todos nós, e de modo particular nos governantes que para nós trabalham, que de uma forma geral, têm gerido bem o “ataque” à pandemia que nos assola desde Março.

Por defeito de formação, sei que a comunicação deste GR não é a iguaria forte do seu cardápio. Quero mais acreditar que será por mera incompetência, desmazelo ou insolência, do que o soberbo preconceito de que o povo seja dócil, ruminante, bonançoso, acéfalo, ou estúpido. Na verdade inclino-me convictamente mais para as primeiras opções, até porque abomino pensamentos de “manada”.

Tenhamos o pano de fundo: somos pobres e dependentes do turismo como um narco-dependente. E a adicionar a essa prestação de serviços, temos o atractivo fiscal da Zona Franca e CIN que compõe o ramalhete das nossas magras e indispensáveis receitas fiscais - incluídos que estamos - num Estado central proto-colonialista no que às autonomias insulares diz respeito. Esta pandemia coloca cruelmente essa nossa dependência turística a nu.

Poderemos sempre discutir até à exaustão a importância insofismável de ambos os pratos da balança denominados saúde e economia, quando o motor económico “cá de casa” gripa, com a falta de visitantes, visto que o nosso mercado interno (que não sendo de descurar), é manifestamente insuficiente para mitigar a sangria dos tradicionais mercados emissores que contribuem para muitas mesas de famílias madeirenses e portossantenses.

As imagens que vimos da aglomeração de pessoas no Rally da Calheta, não me chocam mais, do que aquelas que vi há pouco tempo no interior do Lobo Marinho. Em ambas as situações falta a mesma coisa que escrevi acima: bom senso. Até porque é impossível colocar um polícia, um fiscal ou um centro de recolha de toda a chibaria que os bufos relatem. Contudo essas imagens da anterior prova automobilística evidenciam a nossa fragilidade, e sobretudo uma grande hipocrisia, como se fosse previsível tal não ocorrer. Era melhor os governantes engolirem essa tola surpresa com ameaças de suspenderem os eventos e efectivamente os suspenderem ou cancelarem. Fazerem-nos todos de parvos com o avanço desta medida apressada de modo a incluir o Rally Vinho da Madeira (que não tem actualmente atractivo turístico substancial), é na minha óptica desconstruir uma imagem de crédito e confiança que o GR granjeou nos últimos meses, com a agravante do tácito processo comunicacional de nos chamarem (subtilmente) de estúpidos. Caiu-lhes a face da máscara! Reponham-na, pois vão a tempo!

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