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Crónicas

Daqui e dali

1Livro: O neurologista Oliver Sacks escreveu “Musicofilia”, onde descreve o modo como nos relacionamos com a música. A sua carga libertadora, o poder de acalmar. Um livro imprescindível para quem gosta de música.

2. Disco: Estive há dias, com o Paulo Lopes, à conversa com o Guilherme Gomes, dos fantásticos Man On A Couch, no “DIÁbo à Solta”. Um dos vídeos que passámos no programa leva o nome do que mais abunda no Porto Santo: areia. E é uma das melhores promoções da Ilha Dourada que vi até hoje.

O primeiro trabalho desta banda madeirense, “Senso Comum”, devia andar a rolar em todo o lado. É bom, é muito bom. Registem este nome.

3. José Alves Merquior foi um crítico literário, ensaísta, diplomata, sociólogo e cientista político, membro da Academia Brasileira de Letras. Foi discípulo de Raymond Aron e doutorado pela London School of Economics.

Escreveu um importantíssimo livro onde explana o seu lúcido pensamento político: “O Liberalismo, Antigo e Moderno”.

Merquior entende que um liberal acolhe uma vasta série de práticas e conceitos de um conjunto de ideias que, desde o século XVIII, têm enaltecido a dimensão individual, defendendo-a dos constantes avanços do Estado. O liberalismo, não é sectário e unitário. Admite a divergência interna e vive bem com a falta de unanimidade que leva ao compromisso e que são muitas as escolas e correntes de pensamento que o constituem.

Trago-o aqui, porque é Merquior quem estabelece um conceito para mim fundamental para que a questão do liberalismo fique clara: a diferença entre “liberalismo” e “liberismo”.

Para o pensador, o “liberismo” tem única e exclusivamente a ver com as questões económicas. Ou seja, um liberal económico não é um liberal pois faltam-lhe as perspectivas políticas e sociais para que o possa ser. É, por isso, um “liberista”.

4. Não percebo esta coisa do “PARTEX Guy”, vulgo “o salvador da pátria”. Faz-me espécie que o Ministro da Economia engula esta pastilha efervescente, como se não existisse.

Um perito em cartas que saca um Ás de Espadas quando o trunfo é Copas e que, com três passes de magia e uns pozinhos de mais Estado, nos vai levar aos céus, em três tempos.

Precisamos tanto destas soluções a cheirar a velho como de um toque rectal. Carecemos tanto de António Costa e Silva como de uma unha encravada. Tudo isto, é tão imprescindível como uma dor de ouvidos.

Mais uma vez o malabarista-mor tenta tirar um coelho da cartola, e o que de lá sai? Um peluche de pêlo encardido.

Só me apetece berrar bem alto como Haddock, o companheiro de Tintin: “com mil milhões de macacos e raios e coriscos, cambada de sacripantas!”

5. Tem-me divertido imenso a saga dos confinamentos versus “habeas corpus”. Entra no tribunal o pedido, testa-se a correr, acusa negativo, manda-se o requerente para casa, o tribunal declara a inutilidade da acção. Novo “habeas corpus” e repete tudo de novo.

No final, declara-se que o vírus só requer 7 dias de quarentena.

Impossível, no mínimo, não sorrir.

6. Os “socialistas” do PSD, coligados com a esquerdinha light do CDS, fazem jus ao estatismo de que tanto gostam. Escondem-se atrás de umas ditas determinações nacionais e europeias para o fazer, servindo isto para que a Secretaria da tutela faça uma “prova de vida”, pois a tendência é a de nos esquecermos que existe.

O todo-poderoso Estado, o supremo Estado que olha por nós (amém), vai verificar as lapas que comemos.

Já aqui falei uma vez do “efeito cobra” que se verifica quando a solução para um problema o agrava. Com isto, podemos estar em presença da criação de um problema devido a uma solução não necessária. Estamos na presença do nascimento do “efeito lapa”.

Só de pensar nisso, penso que vou optar pelos caramujos. Ups... é melhor estar calado e não dar ideias.

7. Já tinha saudades dos passes de mágica de Paulo Cafôfo. Depois de murros na mesa, de ferrys todo o ano, de mobilidade ao alcance da mão, eis agora 500 milhões de euros com um simples estalar de dedos.

Ah, estes habilidosos da política...

As medidas que prevêem o adiamento do pagamento da dívida, empurrando para a frente, e a suspensão até fim de janeiro de 2021 dos artigos da Lei das Finanças Regionais (16.º e 40.°) que impedem a contracção de empréstimos, foram votadas, na semana passada na AR, por propostas do PSD e do CDS. Registe-se que o PS votou contra.

Não entendo esta maneira de fazer política. É só folclore.

8. Eis chegada a normalidade,

A bem da nossa sanidade.

Nem sei como aguentamos.

Senão... vejamos:

Em Famalicão o Porto jogou,

O VAR não funcionou.

O Sporting com o Vitória,

Sempre a mesma história.

O Benfica com o Tondela

E uma tropeçadela.

Porque isto não é demasiado,

Um autocarro foi apedrejado.

Em dois dias, encheu o rol,

Voltou a porcaria do futebol!

9. Na semana passada houve uma manifestação em Washington frente à Casa Branca. A certa altura, apagaram-se as luzes do edifício que geralmente estão sempre acesas.

Será que o ilustre habitante do casarão pensou que, se apagasse as luzes, os manifestantes pensavam que não estava ninguém em casa e se iam embora?

10. “A democracia amplia a esfera da liberdade individual, o socialismo restringe-a. A democracia atribui a cada homem um valor máximo; o socialismo faz de cada homem um mero agente, um simples número. Democracia e socialismo nada têm em comum excepto uma palavra: igualdade. Mas observe-se a diferença: enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura a igualdade na repressão e na servidão.” - Alexis de Tocqueville (1848)

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