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PME portuguesas já tinham dificuldade no acesso ao crédito antes da pandemia

Foto NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA
Foto NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA

As pequenas e médias empresas (PME) portuguesas já tinham dificuldades no acesso ao crédito antes da pandemia de covid-19, de acordo com um inquérito publicado num artigo do Banco Central Europeu (BCE), hoje divulgado.

“A deterioração no volume de negócios e no lucro nas PME da zona euro foi vista como um impedimento à obtenção de financiamento externo (-18%, depois de 5%) pela primeira vez desde setembro de 2014, particularmente entre as PME espanholas, italianas e portuguesas”, pode ler-se num artigo do boletim económico do BCE hoje divulgado.

O artigo apresenta os resultados do Inquérito de Acesso ao Financiamento pelas Empresas (SAFE, na sigla em inglês), que diz respeito ao período entre outubro de 2019 e março de 2020.

“Dado que o inquérito foi conduzido entre 02 de março e 08 de abril, as empresas puderam contabilizar o impacto da crise decorrente em alguma medida. No entanto, os resultados do inquérito relativo a questões do passado podem apenas mostrar efeitos parciais da crise”, assinala o artigo.

Também sobre fontes de financiamento internas no período analisado, os empresários portugueses reportaram uma disponibilidade de fundos líquidos de -26%, mais negativa do que a dos empresários em França (-23%) e em Itália (-21%).

Já em termos da disponibilidade esperada de fontes de financiamento externas, os maiores declínios reportados nas PME da zona euro deram-se em Espanha, Itália, Portugal e Eslováquia, tendo sido “ainda mais limitado do que em 2012, quando 15% das PME reportaram uma deterioração na disponibilidade esperada” de fundos.

Em geral, no período analisado, as PME da zona euro “assinalaram um declínio no volume de negócios pela primeira vez desde o início de 2014”, de -2%, quando o valor do inquérito anterior tinha sido uma subida de 20%.

“Apesar de algumas diferenças entre os países, a deterioração foi generalizada. Os declínios mais agudos foram registados em Itália, seguida da Eslováquia, Grécia e Espanha, enquanto na Alemanha e França uma muito mais pequena percentagem de PME indicou, em média, um aumento do volume de negócios”, pode ler-se no artigo assinado pelas economistas Katarzyna Bankowska, Annalisa Ferrando e por Juan Angel García.

Também os lucros das PME da zona euro enfraqueceram (-15%, depois de -1%) no período de outubro de 2019 e março de 2020, e foi “particularmente forte entre PME gregas, espanholas, italianas e eslovacas”.

“A nível setorial, a indústria parece ter sido a mais afetada pela deterioração nos lucros (-20%, depois de -7%), sobretudo em Itália. No setor do comércio, 19% das PME da zona euro também reportaram o decrescimento dos lucros, com a percentagem a chegar aos 37% em Itália e 30% em Espanha”, detalha o documento hoje divulgado.

No acesso ao financiamento das empresas, as perspetivas económicas gerais afetaram negativamente esse processo (-30%, face a -13% anteriores) na maior proporção desde março de 2013, tendo sido generalizado, mas notado “particularmente na Alemanha, Itália e Finlândia”, e nos setores, com a indústria a -31%, construção a -21%, serviços a -31% e comércio a -30%.

Relativamente ao futuro, no dia em que Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia (10 de março), “17% das empresas, em média, esperavam uma deterioração na disponibilidade de empréstimos bancários e linhas de crédito”, mas esse número já estava nos 41% para empréstimos e 43% para linhas de crédito no dia 18, quando o BCE anunciou o seu programa de emergência de compra de ativos (PEPP).

“Apesar de não ser possível inferir o impacto direto do anúncio do PEPP nas expetativas das empresas, parece ter havido alguma mitigação da sua visão pessimista dos produtos bancários a partir dessa data”, segundo o artigo do BCE.

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