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Análise

A cautela que se impõe e a gula dos políticos

A partir de 1 de Julho os passageiros que cheguem à Região não vão ser encaminhados para confinamento obrigatório. Ou trazem um teste negativo à covid-19 ou serão testados nos aeroportos, quando desembarcarem. Não vão ficar retidos e seguirão o seu destino. Os resultados serão conhecidos apenas nas 12 horas seguintes, o que acarreta preocupação. Se é certo que precisamos de pessoas, de turistas que ponham a economia de novo a girar, também é certo que não precisamos de contágios pelo vírus que nos fez encerrar portas durante tanto tempo. Estamos perante um dilema, mas não conseguimos colocar em suspenso por mais tempo o nosso frágil tecido empresarial. A economia fala mais alto. Caso contrário morreríamos da ‘cura’.

O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública manifestou, ao DIÁRIO, as suas reticências quanto à eficiência da testagem de passageiros à chegada. Nem a posse de um teste negativo nas últimas 72 horas garante que o passageiro esteja livre do novo coronavírus. É determinante, por isso, que todos nós, incluindo o que nos vierem visitar, cumpram escrupulosamente com as medidas de prevenção à infecção. Não podemos baixar a guarda. Seria um enorme retrocesso voltarmos a ter muitos casos activos de covid-19 na Região. Se conseguimos escapar, de certa forma incólumes, à pandemia, devemos aos critérios muito apertados de entrada no arquipélago. Não tenhamos dúvidas sobre isso. O sistema regional de saúde não aguentaria uma situação descontrolada e pagaríamos uma factura elevada se isso vier a acontecer. Temos de saber viver com o vírus, é certo, mas não podemos facilitar, porque não se trata, como está muito em voga dizer-se, de uma infecção menor, menos letal do que a gripe. O resultado prático de quem assim pensa está à vista de todos. As campanhas de sensibilização e a vigilância sanitária não podem esmorecer, a população não pode relaxar à sombra dos bons resultados actuais. Temos todas as condições para sermos um destino seguro, amigo e hospitaleiro para quem nos visita, longe de preconceitos xenófobos e racistas.

2. Enquanto fazemos contas aos estragos causados pela pandemia; enquanto os empresários contam os tostões e desesperam pela ajuda pública que não chega; enquanto o contribuinte cumpridor desespera pelo reembolso do IRS que tarda em cair na conta, prova irrefutável do abuso perpetrado pelo Estado, enquanto muitos desesperam pela retoma da sua actividade profissional, dependendo de subsídios que levam parte do salário; enquanto muitos têm de refazer as suas vidas outrora estabilizadas e muitos engrossam as fileiras do desemprego e da pobreza, há partidos que se entretêm a fazer sondagens para testar a notoriedade dos seus dirigentes, a pensar nas eleições autárquicas do próximo ano e nas ‘Regionais’ de 2023. A prioridade política de muitos são unicamente as eleições. A sua preocupação maior é garantir o poder. Pouco importam os desafios que se colocam à Região, que são, como sabemos, colossais e calculados em mais de mil milhões de euros. Com o desconfinamento progressivo vai caindo a máscara de muitos que apenas se preocupam com o desempenho partidário e com a conquista do poder. É legítimo em democracia auscultar-se a opinião da população, mas este não é o momento. O momento é de encontrar soluções que permitam uma saída o menos penosa possível desta crise monumental, de dar respostas aos doentes que ficaram em suspenso, de recuperar cirurgias atrasadas, de acudir aos mais necessitados. Os que procuram nas sondagens ânimo para voos mais altos, vão apanhar um susto na hora da verdade, quando os eleitores forem chamados a escolher nas urnas os seus representantes. Infelizmente muita da nossa classe política não consegue aprender com os erros cometidos ao longo de décadas, insistindo nas mesmas tácticas, nos mesmos jogos, na narrativa tendenciosa, que privilegia o interesse do grupo, a manutenção ou conquista de lugares ao debate construtivo de ideias e projectos, tão necessários para a retoma económica de uma região pobre e dependente de factores externos.

3. Somos ou não uma sociedade racista? Somos ou não uma sociedade machista? Ficam as questões para reflexão de cada um. Voltarei ao tema.

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