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Ministro brasileiro nega risco de golpe militar mas alerta para “não esticarem a corda”

O ministro da Secretaria de Governo do Brasil, general Luiz Eduardo Ramos, considerou hoje “ultrajante e ofensivo” dizer que as Forças Armadas do país vão fazer um golpe militar, mas avisou para o “outro lado” não “esticar a corda”.

“É ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar um golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio Presidente [Jair Bolsonaro] nunca pregou o golpe. Agora, o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”, disse o general, em entrevista à revista Veja.

Ramos, que é um dos nove militares que integram cargos ministeriais no Governo de Bolsonaro, confirmou na entrevista que pretende aposenta-se das Forças Armadas, após ter sido criticado por outros militares de alta patente por ter participado numa manifestação pró-Governo e contra o Supremo Tribunal ao lado de Bolsonaro, no mês passado.

“Fui muito criticado no dia seguinte pelos meus companheiros de farda. Não me sinto bem. Não tenho direito de estar aqui como ministro e haver qualquer leitura equivocada de que estou aqui como Exército ou como general. Por isso, já conversei com o ministro da Defesa e com o comandante do Exército. Devo pedir para ir para a reserva”, indicou o ministro.

Ao longo dos últimos fins de semana, apoiantes do atual Governo têm organizado manifestações inconstitucionais e antidemocráticas, pedindo o encerramento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, assim como uma intervenção militar, sendo que alguns desses atos contaram com a presença de Bolsonaro e de alguns dos seus ministros.

No último domingo, milhares de brasileiros saíram às ruas em várias cidades, incluindo a capital Brasília e as metrópoles mais populosas do país, São Paulo e Rio de Janeiro, aderindo a protestos contra e a favor do executivo.

Os manifestantes anti-Governo defenderam a democracia, criticaram o chefe de Estado brasileiro e pediram o fim do “racismo estrutural” no país.

O ministro Luiz Eduardo Ramos criticou, em entrevista à Veja, as acusações de fascismo feitas à atual gestão, revelando que esteve “disfarçado” na manifestação do último domingo, em Brasília, contra o racismo e contra o Governo.

“Só há uma coisa que me incomoda e me desperta atenção. Um movimento democrático a usar roupa preta. Isso lembra-me muito autoritarismo e ‘black blocs’ (bloco negro, na tradução para português, movimento associado ao anarquismo). Quando falo em democracia, a primeira coisa que me vem à mente é usar as cores da minha bandeira, verde e amarelo”, disse o general.

“No domingo, fiquei disfarçado no relvado em frente ao Congresso, observando o pessoal. Eles não usavam vermelho [cor associada ao comunismo] para não pegar mal. Mas pareceu-se que eram ‘petistas’ [apoiantes do Partido dos Trabalhadores - esquerda]”, afirmou Ramos.

O general minimizou ainda a possibilidade de um processo de destituição contra Bolsonaro, afirmando que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a quem compete fazer uma análise inicial das denúncias contra o chefe do Executivo federal, lhe indicou que não irá colocar para votação os pedidos de destituição.

“Acho que não vai acontecer, porque não é pertinente para o momento que estamos a viver. O Rodrigo Maia já disse que não tem nenhuma ideia de pôr para votar os pedidos de ‘impeachment’ [destituição] contra Bolsonaro”, revelou o ministro.

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