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Autoridades americanas alertaram para a possibilidade de interferência da Rússia nas eleições

O Departamento de Segurança Interna e o FBI alertaram no início deste ano que a Rússia poderia interferir nas eleições de 2020 nos Estados Unidos da América, de acordo com um memorando policial a que a AP teve acesso.

O documento, datado de 03 de fevereiro, detalha as táticas que as autoridades dos EUA acreditam que a Rússia poderia usar para interferir nas eleições deste ano, incluindo aconselhar secretamente candidatos e campanhas.

A nota refere que, embora as autoridades “não tenham observado a Rússia tentar essa estratégia contra os Estados Unidos”, conselheiros políticos que trabalham para um magnata próximo do presidente russo, Vladimir Putin, estão envolvidos em campanhas secretas em vários países africanos.

O memorando enfatiza como continuam a soar os alarmes entre os responsáveis do governo de Donald Trump perante a perspetiva de uma futura interferência russa na política americana, mesmo tendo o presidente norte-americano tentado desvalorizar o envolvimento do Kremlin na sua vitória de 2016 sobre a democrata Hillary Clinton.

Como foi preparado antes do surto de coronavírus, o documento não reflete a forma como a pandemia pode afetar as táticas que a Rússia pode usar para interferir nas eleições.

Porta-vozes do FBI e do Departamento de Segurança Interna não fizeram, para já, comentários sobre o assunto.

O documento, descrito como um “auxílio de referência” e intitulado “Possíveis Táticas Russas Antes das Eleições nos EUA em 2020”, não identifica candidatos ou campanhas específicas que a Rússia possa apoiar através suas ações.

Em 2016, algumas autoridades dos EUA acusaram a Rússia de ter apoiado Trump, tomando medidas para ajudar a campanha do republicano e prejudicar a candidatura de Clinton.

Já este ano, alguns responsáveis dos Serviços Secretos informaram parlamentares sobre os interesses russos nas eleições deste ano, embora a Rússia tenha negado a ingerência.

O memorando, revelado pela Associated Press, alerta para oito possíveis táticas russas, dividindo as preocupações no que as autoridades dizem serem “altas” ameaças e ameaças “moderadas”.

Entre as grandes ameaças estão a possibilidade de a Rússia aceder indevidamente a informação e divulgá-la, como na campanha de 2016 - quando os emails roubados da campanha de Clinton por hackers russos foram publicados pela WikiLeaks - e, mais recentemente, na corrida presidencial francesa.

Entre o receio de outras grandes ameaças está a possibilidade de a Rússia utilizar “órgãos de comunicação controlados pelo Estado para disseminar temas eleitorais, de forma a atingir o público-alvo”, usar alavancas económicas e comerciais para obter influência dentro de uma campanha ou administração e utilizar perfis falsos nas redes sociais para promover os interesses russos e influenciar a opinião americana.

Das ameaças menores ou “moderadas” fazem parte direcionar ou manipular a estrutura eleitoral, como bancos de dados de eleitores e sistemas de apuramento de votos, e fornecer apoio financeiro a candidatos ou partidos americanos.

A possibilidade de o Kremlin aconselhar secretamente candidatos e campanhas também é descrita como uma ameaça moderada, mas é digna de nota porque essa não é uma preocupação que as autoridades americanas habitualmente destacam em público quando fazem alertas sobre a interferência russa nas eleições.

Essa tática ainda não foi observada nos Estados Unidos, escreveram as autoridades, embora o documento note que os estrategas russos acreditavam estar a trabalhar para Yevgeny Prigozhin, um empresário rico conhecido como “chef de Putin” por causa das suas ligações com o presidente russo.

“Eles estiveram envolvidos em campanhas políticas em aproximadamente 20 países africanos durante 2019”, acentuam as autoridades americanas.

Um relatório de outubro do Stanford Internet Observatory pormenorizou uma operação do Facebook em vários países africanos, atribuída a entidades ligadas a Prigozhin, que apoiava candidatos individuais em alguns casos, promoveu narrativas específicas e reforçou ou depreciou governos de forma consistente com a agenda de política externa russa.

Prigohzin estava entre os russos indiciados na investigação do advogado especial Robert Mueller pelo seu papel numa campanha obscura nas redes sociais destinada a semear a discórdia entre os americanos antes das eleições de 2016 nos EUA.

O documento não foi classificado, mas marcado como “Somente Para Uso Oficial”. Foi preparado por especialistas cibernéticos do Departamento de Segurança Nacional e do FBI e coordenado com outras agências federais. A AP teve acesso ao memorando através de um pedido de registos públicos.

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