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5 Sentidos

Artistas falam em “tristeza imensa” pela perda de “uma imensa escritora”

As escritoras Ana Luísa Amaral e Teolinda Gersão estão entre os autores que manifestaram, nas redes sociais, o sentimento de “perda enorme” pela morte de Maria Velho da Costa, ocorrida no sábado, em Lisboa, aos 81 anos.

A artista plástica Paula Rego, que concebeu a pintura para a capa de “Lucialima”, recorda a imagem do romance, de 1983, sob o nome da sua autora.

“Morreu Maria Velho da Costa, essa imensa escritora”, publicou a poeta Ana Luísa Amaral na sua página no Facebook.

“A perda para a literatura é enorme, como é enorme a sua perda como pessoa. Uma tristeza sem nome!”, sublinha a autora de “E Todavia” e “Às Vezes o Paraíso”.

Ana Luísa Amaral recorda então “a fala de Elvira”, a criada do romance “Casas Pardas”, como exemplo da “grandeza de Maria Velho da Costa, do seu génio”: “Eu quero dizer. Que os vossos altos edifícios e saber são lindos como o mirante de Deus. Eu quero dizer que só são belos os primores da minha rudeza se vierdes comigo ao que nela me mantém (...)”.

Teolinda Gersão usa igualmente o Facebook para se manifestar: “Acabo de saber, com enorme tristeza. Até sempre, Maria Velho da Costa. A tua obra fica”, escreve a escritora de “A Cidade de Ulisses” e “Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo”.

O encenador, escritor e realizador Jorge Silva Melo, fundador da companhia Artistas Unidos, evoca memórias do dia-a-dia: “Olho em volta, agora que recebo a notícia esperada e inesperada da morte de Maria Velho da Costa. E já não vejo ninguém daqueles que, emocionado, conheci entre 1964 e 1968 naquela Avenida Cinco de Outubro, onde estava o escritório da Moraes”.

Silva Melo refere-se à antiga editora que publicou Maria Velho da Costa, os títulos “Maina Mendes”, “Casas Pardas”, “Da Rosa Fixa”, e que retomaria “Novas Cartas Portuguesas”, a obra que fez tremer a ditadura do Estado Novo, o romance epistolar, construído numa correspondência conjunta com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno.

A escritora Luísa Costa Gomes, que adaptou as muitas vozes de “Casas Pardas” para palco, em 2012, partilhou uma imagem e uma entrevista da autora de “Lucialima” ao jornalista Fernando Assis Pacheco. Uma conversa de gigantes, sobre a escrita, a literatura, a leitura, disponível no arquivo da RTP do programa “Escrever É Lutar”.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, por seu lado, recordou Maria Velho da Costa como “uma das imprescindíveis, da literatura, do feminismo, da liberdade”.

A afirmação acompanha apenas uma imagem da escritora, na conta do Twitter de Catarina Martins.

Maria Velho da Costa, Prémio Camões em 2002, morreu no sábado, aos 81 anos.

Considerada pela investigação literária uma das vozes renovadoras da literatura portuguesa desde a década de 1960, é autora de conto, teatro, mas sobretudo de romance, com obras como “Maina Mendes” (1969), “Casas Pardas” (1977), “Lucialima” (1983), “Missa in albis” (1988) e “Myra” (2008).

Nascida em Lisboa, em 26 de junho de 1938, Maria Velho da Costa foi distinguida com os principais prémios da literatura portuguesa: o Prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da obra, os prémios D. Diniz, PEN de Novelística, Correntes d’Escritas, o Prémio da Associação Portuguesa de Críticos Literários e o Grande Prémio de Literatura dst, além do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, o Grande Prémio de Teatro, o Grande Prémio de Romance e o Prémio Vida Literária, as maiores distinções da Associação Portuguesa de Escritores.

Era Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

“A literatura e a poesia são um perigo” para os regimes totalitários, disse, quando recebeu o Prémio Vida Literária, em 2013. “Por isso [esses regimes], queimam, ignoram e analfabetizam. O que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza”, acrescentou.

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