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Confinamento pode custar mais de 2 mil ME ao comércio internacional

Foto Tolga AKMEN/AFP
Foto Tolga AKMEN/AFP

As medidas de confinamento implementadas no mundo para combater a pandemia da covid-19 podem custar mais de dois mil milhões de euros ao comércio internacional de mercadorias, revelou hoje a companhia de seguros de crédito COSEC.

De acordo com a estimativa da Euler Hermes, acionista da COSEC -- Companhia de Seguro de Créditos, as medidas de confinamento postas em prática por todo o mundo para combater a pandemia, e a consequente retoma da atividade de forma desfasada entre países, levarão a que as tarifas aplicadas às importações de todos os países subam 11 pontos percentuais, para os 17%, o que equivalerá a mais de dois mil milhões de euros.

O estudo “COVID-19 losses equivalent to a return of 1994 tariffs”, recentemente lançado pelo grupo segurador, refere também que, “mesmo após o fim do confinamento, o facto de haver regras diferentes entre Estados sobre a circulação de bens, serviços e pessoas pode gerar incerteza, assimetria de informação e uma sobrecarga regulatória sobre as empresas, impedindo o comércio global de voltar ao normal”.

Após um choque de 22,5% em termos de valor, o comércio internacional poderá, mesmo depois do fim do confinamento, permanecer abaixo de 90% quando comparado com o que se registava antes da crise, adverte o estudo.

Apesar disso, o estudo indica que “a recuperação acontecerá ainda no segundo semestre deste ano”, na sequência da retoma da atividade no setor industrial, e durante o próximo ano, crescendo 10% em volume e 15% em valor.

O documento chama a tenção para a existência de diversos setores que podem estar em risco devido às pressões inflacionistas.

“Apesar do cenário considerado mais provável ser o de uma recuperação em forma de “U”, os analistas alertam para o facto de alguns setores, nomeadamente os que exportam produtos de alto valor acrescentado e são mais sensíveis a interrupções na cadeia de fornecimento, correrem o risco de sofrer um aumento de preços”, lê-se no documento.

O estudo exemplifica com os casos da informática, eletrónica, dos metais e da indústria mineira, dos transportes, do equipamento elétrico e dos têxteis.

Já ao nível dos países, o trabalho considera que correm maior risco as empresas que operam na China, nos Estados Unidos, na Alemanha, em França, na Irlanda, Bélgica, Holanda e no Luxemburgo.

Quanto ao aumento do protecionismo ao nível das trocas comerciais, os economistas da Euler Hermes alertam para o regresso deste risco, que o comércio internacional já enfrentava, mesmo antes do surgimento da pandemia, mas desta vez mais reforçado.

“A adoção destas políticas por parte dos Estados pode recriar a incerteza vivida em 2019 e prejudicar a recuperação do investimento, intensificando-se à medida que se agravam tensões entre os Estados Unidos e a China”, lê-se no estudo.

O trabalho refere que o protecionismo “tem sido evidente”, por exemplo, nos produtos relacionados com a pandemia da covid-19.

Os dados revelam um “nível recorde de novas restrições à exportação” de produtos médicos, farmacêuticos e de equipamento de proteção por parte de muitos países”, segundo o documento.

O trabalho dá nota de que, no total, foram aplicadas mais de 80 novas medidas protecionistas a estes produtos em 2020 em todo o mundo, o que constitui um recorde, e que equivale a 2,5 vezes o total de medidas implementadas em todo o ano passado.

O estudo calcula que, só em este ano, os bloqueios às exportações possam reduzir o comércio de produtos relacionados com a covid-19 em 27 mil milhões de euros.

Os economistas alertam ainda para o impacto que estas políticas protecionistas podem ter no “agravamento da crise sanitária” nos países em desenvolvimento.

O Brasil, Argentina e a Argélia, seguidos da África do Sul, Marrocos, Indonésia, Colômbia, Malásia, México e Chile, são países cujas importações de produtos relacionados com a crise sanitária da covid-19 “estão fortemente concentradas em três principais parceiros” e onde as tarifas sobre esses produtos são “mais elevadas” em relação ao resto do mundo, assinala-se no estudo.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 320 mil mortos e infetou quase 4,9 milhões de pessoas em 196 países e territórios, sendo que mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (91.921) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,5 milhões), seguindo-se o Reino Unido (35.341 mortos, quase 249 mil casos) e a Itália (32.169 mortos, mais de 226 mil casos).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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