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Um rumo

Passados praticamente 2 meses desde que foi decretado o estado de emergência para enfrentar a crise de saúde pública, e após o sucesso relativo das medidas que foram tomadas a nível nacional e regional, permitindo gerir os serviços de saúde sem entrarem em rutura, o designado “achatamento da curva”, estamos agora perante uma crise económica sem precedentes, e para a qual não há soluções nem óbvias nem fáceis.

Não precisaremos de uma segunda vaga do vírus para que as consequências socioeconómicas se façam sentir em breve, com uma vaga de insolvência de empresas, em particular das PME, despedimentos coletivos, o aumento exponencial de desempregados, e a redução generalizada de rendimentos.

Esta perspetiva pessimista foi transmitida pela ACIF de uma forma acentuada, e o sector do Turismo da Madeira será extremamente afetado com perspetivas de que só se inicie a recuperação a partir do final do próximo ano, com hoteleiros em processo de decidir se deixam fechadas as suas unidades, mesmo com a reabertura progressiva do tráfego aéreo, insuficiente nos próximos meses.

A previsão da ACIF resume-se numa quebra no PIB regional superior a 25% este ano e em 2021, e queda acentuada acima dos 15% em 2022. É uma hecatombe que levará anos a recuperar, e que poderá fazer disparar o desemprego para níveis históricos, e destruir muita da capacidade económica e produtiva atual da região.

As perspetivas são tanto ou mais assustadoras quando a ACIF já sugere a entrada do Governo Regional no capital das empresas privadas para que estas possam sobreviver. Não estamos a falar de aumentar o investimento público, nem estamos a falar de linhas de crédito.

Os representantes dos empresários estão a pedir 1,3 Mil Milhões de Euros do Governo Regional para injetar diretamente nas empresas, de modo transversal excetuando empresas do sector financeiro e imobiliário, em troca de capital nas mesmas. Basicamente a proposta traduz-se em o Governo Regional se tornar accionista na maioria das empresas regionais. O documento da ACIF refere inclusivamente em entregar o controlo de gestão das empresas ao Governo, sem reservas.

Não vou neste artigo discutir o mérito ou demérito desta ideia em particular. O que quero realçar é que estamos perante uma verdadeira emergência, para a qual julgo que muitas pessoas ainda não têm verdadeira perceção.

E perante isto qual o rumo da Região? Qual a estratégia e ação concreta que o Governo Regional pretende implementar para iniciar uma recuperação que atenue as previsões mais negativas?

É que isto não vai lá simplesmente a despejar dinheiro em betão, ou a despejar dinheiro em casas do povo, ou a despejar dinheiro nas clientelas do costume.

De momento não sabemos. A própria ACIF afirma que não faz ideia de qual a estratégia do Governo para o Turismo, o sector económico que deveria merecer a maior atenção e prioridade.

Precisamos de um rumo.

P.S.: Queria dar nota do recuo que o PSD e CDS foram obrigados a fazer, relativamente ao regimento da ALRAM que alterou completamente as regras de votação. Foi um episódio lamentável e dispensável, que afetou seriamente a credibilidade do Parlamento Regional com repercussões a nível nacional. Os partidos da oposição PS, JPP e PCP estiveram atentos e pediram a inconstitucionalidade das alterações junto do Tribunal Constitucional. O recuo era inevitável. Queria também realçar que, se por um lado o Presidente da ALRAM foi completamente ultrapassado pela falta de bom senso dos partidos que sustentam a maioria, também foi o único dessa mesma maioria que tomou a iniciativa de reverter esta situação. Fica o registo.

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