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União Europeia avança com cautela para retoma à livre circulação ainda a tempo do Verão

Foto EPA
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A Comissão Europeia anunciou hoje recomendações para os países retomarem a livre circulação na União Europeia (UE), suspensa devido à covid-19, visando um restabelecimento acautelado dos serviços de transporte e do turismo a pensar no verão.

Se a UE é feita de livre movimento entre os Estados-membros, isso tem estado suspenso há mais de dois meses, devido às medidas restritivas adotadas pelos países para conter a pandemia.

Com o surto a estabilizar na Europa -- que, aliás, já nem é o epicentro --, os governos estão agora a levantar algumas medidas, nomeadamente no que toca aos transportes e ao turismo, dois dos setores mais afetados pela paralisação imposta pela covid-19, e foi para os orientar que Bruxelas emitiu hoje algumas orientações, visando medidas coordenadas.

Eis o que o executivo comunitário propôs:

Reabertura gradual das fronteiras e sem discriminação

A Comissão Europeia propôs hoje aos Estados-membros três critérios para a reabertura gradual das fronteiras internas da União Europeia no atual contexto da pandemia da covid-19, sublinhando que deve ser respeitado o princípio da não-discriminação.

As propostas com vista a restaurar, de forma segura, o espaço de livre circulação na Europa, encerrado há cerca de dois meses no quadro dos esforços para conter a propagação da pandemia, constam do pacote de recomendações para a gradual retoma dos transportes e do turismo na União Europeia, hoje adotado e apresentado pelo executivo comunitário, em Bruxelas.

Sublinhando que a livre circulação e as viagens transfronteiriças são fundamentais para o turismo, Bruxelas sustenta que, à medida que os Estados-membros conseguem conter a circulação do novo coronavírus, as restrições gerais à livre circulação devem ser substituídas por medidas mais específicas e dirigidas.

“Se a situação sanitária não justificar um levantamento generalizado das restrições, a Comissão propõe uma abordagem faseada e coordenada que começa pelo levantamento das restrições entre zonas ou Estados-membros com situações epidemiológicas suficientemente semelhantes”, defende a proposta.

Segundo a Comissão, “a abordagem deve também ser flexível, incluindo a possibilidade de reintroduzir certas medidas se a situação epidemiológica o exigir”.

Bruxelas sugere então que os Estados-membros atuem com base em três critérios: “epidemiológico”, “capacidade de aplicar medidas de confinamento” e “considerações económicas e sociais”.

A proposta recomenda que, a nível epidemiológico, os Estados-membros se foquem nas áreas em que a situação está a melhorar, com base nas orientações do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças e utilizando o mapa regional desenvolvido por esta agência.

Para Bruxelas, é também vital assegurar a capacidade de aplicar medidas de confinamento ao longo de todo o percurso, mesmo nos postos fronteiriços, incluindo salvaguardas adicionais e medidas em que o afastamento físico possa ser difícil de assegurar.

Por fim, sustenta que deve ser dada inicialmente prioridade à circulação transfronteiriça em áreas-chave de atividade e incluindo razões pessoais.

Levantamento de restrições nas fronteiras por fases

Ao defender o levantamento das restrições nas fronteiras, numa primeira fase, entre regiões ou Estados-membros com situações epidemiológicas semelhantes, Bruxelas sublinha que “tal não diz apenas respeito aos Estados-membros vizinhos”.

“Quando as restrições são levantadas entre duas regiões, o mesmo tratamento deve ser alargado a todas as regiões da Europa onde a situação sanitária é comparável”, defende.

Bruxelas argumenta que “o princípio da não discriminação deve ser respeitado”, apontando que “quando um Estado-membro decide levantar as suas restrições à circulação de e para outro Estado-membro, ou no que respeita a regiões ou zonas de qualquer um desses Estados-membros, tal deve aplicar-se, sem discriminação, a todos os cidadãos da UE e a todos os residentes desse Estado-membro, independentemente da sua nacionalidade, e a todas as partes da União numa situação epidemiológica semelhante”.

Esta advertência de Bruxelas surge na sequência da intenção já anunciada por alguns Estados-membros de abrirem as suas fronteiras apenas a cidadãos de determinada nacionalidade, quadro que Bruxelas quer prevenir.

A Comissão propõe uma abordagem gradual para levantar as restrições de viagem, composta por três fases.

Na atual, a chamada ‘fase 0’, em que estão em vigor várias restrições para viagens não essenciais, “os Estados-membros devem ainda permitir que os trabalhadores, em especial os transportes, os trabalhadores fronteiriços, os trabalhadores destacados e sazonais e os prestadores de serviços atravessem as fronteiras e tenham livre acesso ao seu local de trabalho, especialmente para os serviços essenciais e a passagem de mercadorias”.

“Na ‘fase 1’, as restrições às viagens e os controlos nas fronteiras devem ser gradualmente levantados em toda a UE, começando entre regiões, zonas e Estados-membros com uma situação epidemiológica em evolução positiva e suficientemente semelhante”, defende Bruxelas, apontando que, “durante esta fase, deve ser facilitado o bom trânsito por razões profissionais e pessoais, bem como para o turismo”.

Por fim, “na ‘fase 2’, todas as restrições e controlos relacionados com o novo coronavírus nas fronteiras internas devem ser levantados, mantendo simultaneamente as medidas sanitárias necessárias”, e “as viagens para todos os fins devem ser permitidas em todo o território da União.”

“Passar da ‘fase 0’, que é o estado atual, para as fases seguintes deve ser feito de forma flexível, dando, se necessário, um passo atrás caso a situação epidemiológica se agrave”, adverte a Comissão Europeia, que salienta que as recomendações hoje emitidas “dizem respeito à livre circulação de pessoas e à supressão dos controlos nas fronteiras internas e, por conseguinte, são dirigidas a todos os Estados-membros da UE, quer façam ou não parte do espaço Schengen, bem como a todos os países associados de Schengen”.

Apenas uma vez levantadas as restrições nas fronteiras internas, a UE ponderará o levantamento das restrições atualmente em vigor que interditam entradas não essenciais no espaço europeu a partir de países terceiros.

Transportes com menos passageiros e mais higiene

A Comissão Europeia recomendou hoje que, na retoma dos transportes, haja menos passageiros a bordo, abrindo exceção para voos, que os clientes e os trabalhadores usem máscaras e outros equipamentos e que sejam colocadas barreiras de proteção.

Após a suspensão de viagens nacionais e dentro da UE para tentar conter a covid-19, o executivo comunitário divulgou hoje recomendações para a retoma dos transportes, vincando que “a saúde dos cidadãos continua a ser a prioridade número um”.

Assim, e para assegurar a proteção tanto dos trabalhadores dos transportes como dos passageiros, a Comissão Europeia sugere que, aquando do restabelecimento progressivo dos serviços de transporte, sejam “permitidos menos passageiros a bordo, por exemplo em autocarros, comboios ou ferries, para facilitar o afastamento físico”.

Porém, dado o impacto que a pandemia está a ter no setor da aviação, com perdas que ascendem aos milhares de milhões de euros, Bruxelas abre uma exceção para o distanciamento em voos, recomendando que, “quando o afastamento físico for mais difícil de assegurar, devam ser estabelecidas salvaguardas e medidas adicionais, por exemplo, o uso de máscaras faciais”.

Se medidas como a colocação de lugares entre passageiros nos voos fossem implementadas, iriam registar-se baixas taxas de ocupação, o que tornaria estas ligações aéreas incomportáveis do ponto de vista económico para algumas companhias aéreas, reconhece o executivo comunitário, admitindo também que “não é possível eliminar” o risco nos transportes, sendo apenas possível atenuá-lo, e isso é feito com equipamentos de proteção.

Mas as regras começam ainda antes da entrada nos transportes, com o executivo comunitário a pedir que se “minimizem os contactos à partida”, incentivando a compra de bilhetes e o ‘check-in’ pela internet, bem como o distanciamento nos controlos de segurança e na entrega e recolha de bagagens.

Outra das recomendações é que, por exemplo em autocarros, sejam instaladas barreiras de projeção, ou então que o embarque seja feito por uma porta traseira.

Além disso, as portas devem ser automatizadas, tem de haver disponível gel de desinfeção, os veículos têm de ser limpos regularmente e deve reforçar-se a ventilação através de filtros de ar.

Bruxelas sugere, ainda, que se minimize o contacto das vendas a bordo de alimentos e bebidas, por exemplo evitando estas situações.

Em todos os casos, a instituição pede aos países da UE, a quem cabe decidir sobre o restabelecimento das viagens, que levantem as restrições de forma “gradual para proteger a saúde”, devendo ainda “reajustar” sistemas como controlos fronteiriços no espaço comunitário ou para países terceiros “à medida que mais pessoas recomecem a viajar”.

“O restabelecimento progressivo dos serviços de transporte e da conectividade dependerá inteiramente da flexibilização das restrições às viagens, de avaliações epidemiológicas e de pareceres médicos especializados sobre as necessidades em matéria de saúde e de proteção sanitária”, ressalva a Comissão Europeia.

Orientações para ‘vouchers’ de viagens canceladas

A Comissão Europeia defendeu hoje garantias públicas, por exemplo dadas pelos países europeus, ou privadas, como através de seguradoras, para atrair passageiros a optar pelos ‘vouchers’ em situações de viagens canceladas devido à pandemia.

Com as viagens suspensas na UE, foram várias as viagens canceladas, nomeadamente voos, e nessas situações as transportadoras são obrigadas a dar a escolher aos passageiros entre reembolsos em dinheiro ou ‘vouchers’ para utilização, segundo ditam as regras comunitárias.

Porém, dada a dificuldade de liquidez das empresas, nomeadamente companhias aéreas, vários países como Portugal pediram a Bruxelas que considerasse apenas a opção dos ‘vouchers’, o que o executivo comunitário negou, vindo hoje pedir aos Estados-membros que tornem esta numa “alternativa viável e atrativa ao reembolso de viagens organizadas e serviços de transporte cancelados no contexto da pandemia”.

Em causa estão as recomendações da Comissão Europeia para a retoma das viagens hoje divulgadas, das quais o executivo comunitário apela para que estes ‘vouchers’ sejam cobertos por proteção em caso de insolvência, para assim levar mais clientes a optarem por esta via.

“O sistema de proteção em caso de insolvência deve ser criado a nível nacional, quer pelo setor público, quer pelo setor privado, como através de um fundo ou de uma seguradora”, precisa a instituição.

Além disso, segundo Bruxelas, estes ‘vouchers’ devem ser reembolsáveis se não forem utilizados: “Os passageiros e os viajantes devem ter o direito de pedir o reembolso em dinheiro o mais tardar 12 meses após a emissão do vale em causa e em qualquer momento posterior”.

Para os casos em que é apenas dada ao passageiro a opção de receber um ‘voucher’ devido ao cancelamento da sua viagem, a Comissão Europeia aconselha a que insistam no reembolso, dadas as regras comunitárias.

“Se não receber uma resposta da transportadora nos prazos legais ou recomendados ou se não ficar satisfeito com a resposta, pode apresentar uma queixa à autoridade nacional competente em matéria de direitos dos passageiros. A autoridade nacional deve fornecer-lhe um parecer jurídico não vinculativo sobre a forma de dar seguimento ao seu pedido”, adianta.

Já nos casos em que os bilhetes foram comprados pela internet, estas queixas devem ser feitas “através da plataforma de resolução de litígios online”.

Portugal queria mudança nas regras comunitárias

No final de abril, Portugal e outros 11 países da UE pediram à Comissão Europeia uma mudança temporária nas regras dos passageiros com voos cancelados, para serem considerados ‘vouchers’ em vez de reembolsos em dinheiro, devido aos problemas liquidez das transportadoras.

Numa declaração conjunta apresentada ao executivo comunitário, e à qual a agência Lusa teve acesso, Portugal, Bélgica, Bulgária, Chipre, República Checa, Grécia, França, Irlanda, Letónia, Malta, Holanda e Polónia realçaram que o regulamento europeu que estabelece regras comuns para assistência aos passageiros dos transportes aéreos em caso de cancelamento dos voos está a colocar “as companhias aéreas numa situação difícil, em que se veem confrontadas com um sério desafio em termos de liquidez”, uma vez que determina a obrigação de as companhias darem a escolher entre reembolsos em dinheiro ou ‘vouchers’ para futura utilização.

Assim, estes países apelaram “à Comissão Europeia para que proponha com urgência uma alteração temporária do regulamento, [...] que permita às companhias aéreas escolher os meios de reembolso dos passageiros”, considerando que a medida “constituiria uma solução para as atuais restrições de liquidez das companhias aéreas, preservando, simultaneamente, a competitividade da aviação europeia”.

Porém, em entrevista à Lusa divulgada no início deste mês, a comissária europeia dos Transportes, Adina Valean, rejeitou esta opção.

“Tenho conhecimento de que vários Estados-membros estão a solicitar essa mudança, mas de momento não a apoio, e incentivo antes toda a gente a tornar os ‘vouchers’ mais atrativos para os passageiros fazerem uma escolha voluntária”, afirmou a responsável.

E frisou: “Assim é a lei e assim deverá manter-se”.

O que diz Bruxelas sobre a quarentena obrigatória?

A Comissão Europeia disse hoje não considerar necessário os países da UE aplicarem medidas de quarentena obrigatória para visitantes se adotarem medidas de contenção “satisfatórias”, como as recomendadas por Bruxelas.

“Consideramos que se as medidas de contenção adotadas pelos diferentes Estados-membros forem satisfatórias, não haverá necessidade de impor quarentena às pessoas que chegam aos países”, defendeu a comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, em Bruxelas.

Falando em conferência de imprensa no dia em que o executivo comunitário lançou recomendações para a retoma dos serviços de transporte e de turismo, prevendo um restabelecimento gradual da livre circulação na UE, Stella Kyriakides notou que a imposição de quarentena obrigatória é “uma medida de saúde pública que é decidida por cada país”, ainda que não seja aconselhada pela instituição.

Na UE, países como Espanha vieram já anunciar este tipo de medidas, com o Governo espanhol a decidir que todas as pessoas que entrem no país a partir desta sexta-feira sejam colocadas de quarentena durante 14 dias.

Já fora do espaço comunitário, mas ainda assim na Europa, o Reino Unido indicou que pretende também impor desde o final do mês uma quarentena de 14 dias para as pessoas que chegarem do estrangeiro, mas com exceções para as chegadas de França, Irlanda ou motoristas de veículos de mercadorias.

Vigilância através de ‘app’ de rastreamento de contactos

Ainda relativamente à retoma dos transportes, o executivo comunitário destaca, nas recomendações hoje feitas, o papel que as aplicações móveis de rastreamento de contactos podem ter neste levantamento das restrições, por poderem “alertar pessoas que possam ter estado expostas ao vírus, para que os cidadãos possam ser avisados de uma potencial infeção pelo novo coronavírus também quando viajam na UE”.

Depois de ter lançado orientações para este tipo de aplicações móveis, Bruxelas vem agora reforçar que este tipo de ferramentas tem de respeitar as regras comunitárias para proteção dos dados, devendo ser “voluntárias, transparentes e temporárias” e basear-se na tecnologia Bluetooth, que é mais segura do que os serviços de geolocalização.

A retoma dos serviços de transporte é também crucial para o restabelecimento do turismo europeu, atualmente estagnado devido à covid-19.

Próximo verão marcado por distanciamento e desinfeção constante

A Comissão Europeia recomendou também hoje, nas regras para a retoma do turismo europeu, uma distância mínima de 1,5 metros e normas de higiene apertadas em praias e piscinas, e o estabelecimento de um número máximo de clientes em restaurantes.

Numa altura em que os países pensam em levantar algumas medidas restritivas, o executivo comunitário divulgou hoje “um quadro comum que estabelece critérios para o restabelecimento seguro e gradual das atividades turísticas e o desenvolvimento de protocolos de saúde para hotéis e outras formas de alojamento, a fim de proteger a saúde tanto dos hóspedes como dos funcionários”.

O objetivo é dar aos países orientações ao setor sobre como assegurar que “as pessoas permanecem em segurança em hotéis, parques de campismo, alojamentos ou outros estabelecimentos de férias [...] como restaurantes, bares e cafés e ir às praias e outras zonas de lazer ao ar livre”.

A principal recomendação de Bruxelas é que, nesta retoma dos serviços turísticos a pensar no verão, seja assegurado o distanciamento físico e reforçada a desinfeção.

No que toca a restaurantes, cafés e bares, a Comissão Europeia entende que “os estabelecimentos devem pôr em prática medidas específicas para assegurar o afastamento físico em áreas comuns onde os clientes se possam reunir durante longos períodos de tempo -- ou seja, mais de 15 minutos --, como a definição de um número máximo permitido em cada instalação comum”.

Outra sugestão é que seja “considerada a atribuição de horários ou a disponibilização de reservas para refeições ou para deslocações a piscinas ou ginásios”.

E “quando o afastamento físico não puder ser plenamente observado, devem ser consideradas medidas alternativas para proteger os hóspedes e os trabalhadores, tais como a utilização de painéis de vidro ou de plástico, o uso de máscaras, etc.”, vinca a Comissão Europeia.

Uma distância de 1,5 a dois metros é, então, recomendada pela instituição “em todas as áreas comuns” dos estabelecimento e, quando isso não for possível, deve ser reforçada a utilização de equipamentos de proteção, tanto por parte dos clientes, como por parte de trabalhadores.

O mesmo se aplica a locais exteriores como praias e piscinas, nas quais “devem ser tomadas disposições especiais para permitir o afastamento físico e aplicadas medidas especiais de higiene”, argumenta o executivo comunitário nas recomendações hoje feitas aos países da União Europeia (UE), a quem cabe decidir sobre a retoma dos seus serviços turísticos.

Bruxelas defende, também, que “os eventos de maior dimensão, como os concertos, devem ser adiados”.

Critérios que devem pesar na decisão de retomar o turismo

Para Bruxelas, a decisão dos países em reabrir o turismo após a estagnação devido à pandemia de covid-19 devem ser baseada em critérios como a necessidade de a taxa de contágio ser abaixo de um, de o país ter capacidade assegurada no seu sistema de saúde e de testes e de conseguir monitorizar os casos positivos, segundo indicam estas orientações e tal como já a Lusa tinha noticiado.

Falando em conferência de imprensa em Bruxelas, a vice-presidente do executivo comunitário com a pasta de “Uma Europa Preparada para a Era Digital”, Margrethe Vestager, notou que estas recomendações se aplicam “ao verão e a depois”.

Regresso ao turismo de proximidade

Nestas recomendações, a Comissão Europeia aponta ainda ser “provável que, devido à recente crise epidémica, o turismo interno e intracomunitário venha a prevalecer a curto prazo”.

Por isso, Bruxelas insiste na promoção do turismo de proximidade, sugerindo medidas como a criação de um sistema de vales, “através dos quais os consumidores possam apoiar as suas empresas turísticas locais favoritas”, de forma a dar-lhes liquidez.

O objetivo é que estes vales possam ser “adquiridos pelos consumidores a pequenos fornecedores do setor do turismo fechados”, como restaurantes, alojamentos ou pequenos hotéis, para serem “posteriormente trocados por serviços quando as empresas reabrirem”.

O que dizem os especialistas de saúde

A crise sanitária na Europa está a ser coordenada pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa), entidade que em entrevista à Lusa antecipou que o próximo verão na Europa “não seja normal”, devido à covid-19, sublinhando a necessidade de manter distanciamento em praias e em voos.

“Com alguma cautela, é possível recomeçar, mas também é necessário entender que esta não será uma temporada normal de turismo ou de viagens, será uma temporada com uma lenta reabertura da economia, em que será possível fazer um pouco mais do que acontece hoje [dado o confinamento], mas não será um verão normal na Europa”, disse à Lusa o especialista principal do ECDC para resposta e operações de emergência, Sergio Brusin.

Segundo o responsável, “é possível retomar gradualmente [estes dois setores], mas só se [o país] conseguir monitorizar, fazer uma boa vigilância e tiver camas suficientes [nos cuidados intensivos] e equipamento de proteção suficientes para os serviços de saúde, trabalhadores na primeira linha e para a população em geral”.

E por notar que “o distanciamento físico e social está a resultar”, o especialista recomendou que esta medida continue a ser seguida pelos Estados-membros, tanto no que toca a meios de transporte como voos, como a locais como praias.

“Se o distanciamento social é possível numa grande praça numa determinada cidade, também irá resultar numa praia, nas ruas. O que sabemos é que as pessoas não devem estar fisicamente próximas para não transmitirem o vírus dessa forma”, explicou Sergio Brusin.

Já questionado sobre a colocação de possíveis divisórias em praias e em restaurantes, Sergio Brusin afirmou que isso “depende bastante da configuração”, porque só se as pessoas estiverem “distanciadas por dois metros ou mais” é que têm “risco muito baixo de transmitir a doença”.

“Se o quiserem fazer com uma divisória em vidro ou colocando mesas mais afastadas umas das outras é quase a mesma coisa e depende sempre muito do espaço que há disponível, da situação local, se há vento ou humidade, se é um espaço fechado ou aberto”, elencou.

Ainda assim, deixou um alerta: “Há várias coisas que podem baixar o risco, mas nenhuma pode garantir que não há risco”.

“A grande conclusão é que é preciso manter distância. Se se conseguir manter a distância, as coisas vão correr muito melhor. E já o vimos nos últimos meses, [porque] quando essas medidas foram aplicadas, o número de casos baixou”, concluiu Sergio Brusin.

Sediado na Suécia, o ECDC é um organismo da UE que ajuda os países a preparar a resposta a surtos de doenças.

Possíveis impactos financeiros da pandemia

Os setores dos transportes e do turismo são dos mais afetados pela estagnação gerada pela pandemia de covid1-19.

No que toca aos transportes, a aviação é a mais impactada, devido às quebras na operação que chegam aos 90%.

A Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea (Eurocontrol) já estimou que o setor aeronáutico europeu vá perder 110 mil milhões de euros este ano devido à pandemia de covid-19, entre companhias aéreas, aeroportos e prestadores de serviço, segundo dados divulgados no final de abril.

Ainda segundo a Eurocontrol, em média, estão a ser feitos por dia cerca de 3.000 a 4.000 voos na Europa, a maior parte de carga, e o equivalente a menos 20 a 30 mil do que no mesmo período de 2019.

Relativamente ao turismo, a European Travel Commission, entidade europeia de turismo, já disse prever que o setor turístico europeu necessite de 375 mil milhões de euros para recuperar da crise gerada pela covid-19 e para restabelecer as suas operações.

Em previsões económicas da primavera do executivo comunitário divulgadas na semana passada, a Comissão Europeia projeta uma redução de 50% na atividade turística na Europa este ano devido à pandemia, estimando “consequências prolongadas” no setor, sendo Portugal um dos países mais afetados pela sua “dependência do turismo estrangeiro”.

Nestas estimativas, as primeiras que têm em conta o impacto do novo coronavírus, a instituição aponta que, embora a crise gerada pela covid-19 represente um “choque simétrico” a nível europeu, os “impactos diferem entre os Estados-membros, refletindo a gravidade da pandemia, o rigor das medidas de contenção e as diferentes exposições, por exemplo, à dimensão do setor do turismo”.

E, embora “se espere que estas medidas sejam gradualmente levantadas e que a procura global recupere, [...] o comércio de serviços, particularmente o turismo, deverá recuperar mais lentamente”, segundo o documento.

Para estas previsões económicas, a Comissão Europeia recorreu a três cenários: considerando que medidas de confinamento adotadas pelos Estados-membros duram seis semanas, 10 semanas ou 12 semanas.

Ainda assim, aos três é comum a previsão de que a atividade turística cai 50% este ano, na qual se inclui transporte, hospitalidade, entretenimento e cultura, com Bruxelas a prever “efeitos duradouros” das medidas de contenção.

Para esta previsão entra também a “menor confiança e as perdas de rendimento” dos cidadãos, que serão “dissuasores de viagens não essenciais”.

Especificamente sobre Portugal, a Comissão Europeia antecipa “uma forte recuperação da economia após o choque inicial”, mas alerta para que, “em alguns setores, particularmente no turismo, espera-se que os efeitos secundários se prolonguem”.

Desde logo, por causa da “dependência de Portugal do turismo estrangeiro”, destaca Bruxelas.

Recorrendo a dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) referentes a 2018, a Comissão Europeia destaca nas previsões que Portugal é dos países mais dependentes do turismo, país no qual este setor representa 8% do PIB e 9,8% do emprego, apenas superado nesta dependência por Espanha (onde representa 11,8% do PIB e 13,5% do emprego).

Isto também leva a consequências no desemprego em Portugal, com Bruxelas a indicar que a “lenta recuperação esperada no turismo e em serviços relacionados deverá ter um impacto negativo na procura de mão-de-obra durante um período mais longo”.

A Europa já ultrapassou a barreira dos 150 mil mortos em mais de 1,7 milhões de casos de covid-19.

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