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Jogadores portugueses na Dinamarca confiantes quanto a retoma da Liga de futebol

Foto Shutterstock
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João Pereira sereno com “regresso sensato” da Liga dinamarquesa

O defesa português João Pereira, que alinha pelo SonderjyskE, depositou hoje confiança numa retoma “sensata” da Liga dinamarquesa de futebol no final de Maio, assente numa resposta eficaz do país à pandemia de covid-19.

“Chegámos a um ponto em que tinha de haver um fim e, face à boa acção do Governo, vamos conseguir acabar o campeonato. Certamente, tudo foi acautelado e discutido durante muito tempo com a Liga de clubes, pelo que só temos de acreditar, quase de olhos fechados, que tomaram boas decisões. Estamos ansiosos e com um sentido de responsabilidade muito grande”, admitiu à agência Lusa o central dos ‘dragões’.

No âmbito da segunda fase de desconfinamento face ao novo coronavírus, o Governo de Mette Frederiksen recebeu ‘luz verde’ das autoridades sanitárias dinamarquesas na quinta-feira e a Liga deve anunciar hoje as condições para a retoma do futebol profissional à porta fechada em 29 de Maio, dois meses e meio após a suspensão dos dois principais escalões.

“Estamos habituados a fazer pré-época e agora vamos terminar algo que ficou a meio. É difícil e muito estranho. Ainda temos a agravante de jogar sem público, que desafiará os nossos níveis de concentração. Mas esta é a nossa vida e há que mudar o ‘chip’ para sermos capazes de responder da melhor maneira ao que nos pedem”, apontou.

João Pereira, de 30 anos, reside com a namorada em Haderslev, município situado 200 quilómetros a sudoeste da capital Copenhaga, e voltou a pisar há uma semana os relvados do centro de estágio do SonderjyskE, prosseguindo os treinos individuais que dinamizaram um confinamento “pouco severo” e “cheio de consciência social”.

“Começámos com grupos de cinco jogadores, repartidos por uma metade do campo, e, na sexta-feira, já estávamos todos junto. Não podíamos tocar com as mãos na bola, nem estabelecer contactos, mas o plantel vai galgando aos poucos o medo. Quem ainda não está preparado tem a sensibilidade do treinador para arranjar outro plano”, explicou.

Com normas de distanciamento social autoimpostas desde 13 de março, a Dinamarca destacou-se na contenção da covid-19 sem precisar do estado de emergência e demorou um mês a ser um dos primeiros países europeus a reabrir alguns estabelecimentos escolares, ainda que de forma condicionada, perante 529 mortos em 10.627 infectados.

“Claro que há preocupações, mas vi uma cidade normal e uma nação muito mais livre do que Portugal. Encontramos sempre desinfectantes à entrada e saída de qualquer estabelecimento e nunca usámos máscaras ou luvas. Os supermercados passaram a fechar mais tarde, para que as pessoas não se amontoem a fazer compras”, ilustrou.

O alívio das restrições prolongou-se nas semanas seguintes junto de repartições públicas e algum comércio, enquanto permanece vedada a entrada de estrangeiros e concentrações superiores à dezena de pessoas, num país que disponibilizou fundos estatais para preservar a sustentabilidade dos clubes de futebol durante a pandemia.

“Nós e a maioria das outras equipas recorreram a essa ajuda, daí que não pudéssemos ter contactos presenciais com o pessoal e as instalações do SonderjyskE durante o isolamento. Não sofremos cortes salariais, mas tiraram-nos dias de férias”, contou João Pereira, que evolui pela equipa de reservas e reside há sete anos em solo escandinavo.

A duas jornadas do fim da fase regular da I Liga, a colectividade fundada em 2004 ocupa a 11.ª posição, com 26 pontos, e já sabe que vai integrar o lote dos oito emblemas envolvidos na definição das duas vagas de descida ao escalão secundário, enquanto os seis primeiros classificados medirão forças pelo título de campeão dinamarquês.

“É um contexto tão atípico que a única mensagem que nos passam é evitar lesões. Importa recuperar índices físicos para responder ao objectivo de ficarmos na Superliga. Pensamos jogo a jogo, sabendo que ainda está muita coisa em causa e os vencedores dos dois grupos do ‘play-off’ têm uma oportunidade de lutar pela ida à Liga Europa”, frisou.

Numa época “dentro das expectativas”, o SonderjyskE já conseguiu igualar as melhores prestações na Taça da Dinamarca, registadas em 2011/12 e 2014/15, e vai receber o primodivisionário Horsens nas meias-finais, que estavam previstas para 22 de abril e aguardam por nova calendarização, trazendo outro embate entre o Aalborg e o Aarhus.

“Uma final de Taça jogada num estádio vazio será um ambiente estranho, mas nada nos tira a motivação de chegar lá. É sempre um momento muito bonito, mesmo à porta fechada”, avaliou João Pereira, a cumprir a segunda passagem pelos ‘dragões’, após ter competido por Odense e Vejle e conquistado dois campeonatos pelos moldavos do Sheriff.

Natural de Santarém e com formação dividida entre o Cartaxo e o Benfica, o defesa sabe que o vínculo com o vice-campeão dinamarquês da época 2015/16 ia terminar em 30 de junho e foi prorrogado até ao último encontro da temporada, que deve estar concluída um mês depois, deixando pendente a continuidade no país nórdico ou o regresso a Portugal.

“Não penso muito nisso. Prefiro acabar a época bem e quero estar em forma para os novos desafios que possam existir. Falou-se pouca coisa, mas devo muito a este país e a estas pessoas, gosto deste clube e estarei pronto a ouvi-lo. Deixo o futuro com os meus empresários e tenho a certeza de que a melhor solução virá”, afiançou.

Zeca ousa reinício pujante para resgatar título dinamarquês

O médio luso-grego Zeca prometeu hoje um regresso em força do Copenhaga no final de Maio, acalentando esperanças na revalidação do título de campeão dinamarquês de futebol graças ao confinamento enérgico durante a pandemia de covid-19.

“O clube ainda acredita e, por isso, é que continuámos a treinar sem realmente parar, ao contrário de Portugal e outros países. Queremos estar mais preparados para quando recomeçar a Liga e penso que nos vamos apresentar bem, apesar de treinos sem jogos não serem a mesma coisa. A equipa está a responder bem e a encontrar-se em termos físicos”, assumiu à agência Lusa o internacional helénico e capitão dos ‘leões’.

No âmbito da segunda fase de desconfinamento face ao novo coronavírus, o Governo de Mette Frederiksen recebeu ‘luz verde’ das autoridades sanitárias na quinta-feira e a Liga deve anunciar hoje as condições para a retoma do futebol profissional à porta fechada em 29 de Maio, dois meses e meio após a suspensão dos dois principais escalões.

“Já aconteceu isso no último jogo que fizemos para o campeonato [derrota caseira com o Horsens, por 1-0] e foi estranho. O futebol não se sente da mesma forma sem os adeptos, que são uma peça importantíssima e ficarão privados da alegria e diversão provocadas pelo jogo. Será tão difícil para eles como para nós, mas temos de mudar o ‘chip’”, admitiu.

José Rodrigues, conhecido por Zeca, iniciou um “confinamento pouco rigoroso” fechado numa moradia na capital da Dinamarca, mas alguns dias depois já treinava em parques com “grupos de cinco jogadores”, registo que evoluiu até oito atletas em simultâneo no centro de estágios, antecipando um eventual regresso à normalidade física e mental.

“Houve uma altura em que só queria voltar para Portugal e estar junto da minha família neste momento difícil. Ao saber que não íamos jogar tão cedo, chega a um momento em que vamos um bocadinho abaixo psicologicamente e ficamos com um certo medo de nos encontrarmos com outras pessoas na rua ou estar em lugares públicos”, confessou.

Com normas de distanciamento social autoimpostas desde 13 de Março, a Dinamarca destacou-se na contenção da covid-19 sem precisar do estado de emergência e demorou um mês a ser um dos primeiros países europeus a reabrir alguns estabelecimentos escolares, ainda que de forma condicionada, perante 529 mortos em 10.627 infectados.

“Por acaso, estamos a viver bem e podemos passear onde e quanto quisermos, desde que com a devida distância. Tivemos uma vida quase normal durante a quarentena, embora nos primeiros tempos as pessoas tenham ficado muito preocupadas. Como o Governo nunca nos proibiu de sair, o povo tomou a iniciativa de ficar em casa”, notou.

O alívio das restrições prolongou-se nas semanas seguintes junto de repartições públicas e de algum comércio, enquanto continua vedada a entrada de estrangeiros e concentrações superiores à dezena de pessoas, num país que disponibilizou fundos estatais para preservar a sustentabilidade financeira dos clubes de futebol durante a pandemia.

“Concordámos com a administração em ter um corte salarial de 20% em Abril e Maio. Falava-se que poderia haver despedimentos no clube e a preocupação do plantel e da equipa técnica foi reduzir o vencimento até que o Copenhaga começasse a ter mais encaixe financeiro, para que esses funcionários não perdessem os seus trabalhos”, contou.

Concluído o treino, os ‘leões’ dinamizavam a pausa competitiva com actividades como “jogar golfe, ir a um estúdio de música ou fazer ciclismo de montanha”, que serviram para “ocupar o tempo” e “não pensar tanto” na covid-19, cuja despistagem revelou um caso positivo logo após o último desafio, em 12 de Março, com o Istambul Basaksehir.

“Pensando melhor agora, e vendo o que se passou, acho que esse jogo podia ter sido evitado. Esteve em risco de não ser realizado, mas o Governo turco dizia que não havia contaminados na altura e jogámos com adeptos.

Uns dias depois de termos regressado, o nosso fisioterapeuta testou positivo e não sei se foi lá que contraiu o vírus”, recordou.

Arredado dos quartos de final da Taça da Dinamarca e sem data para reverter a desvantagem frente ao ‘carrasco’ do Sporting na Liga Europa (0-1), o recordista Copenhaga terá de suar rumo ao 14.º campeonato em 28 anos, encarando as últimas duas rondas da fase regular em segundo, com 50 pontos, menos 12 do que o Midtjylland.

“O rival possui uma equipa forte e uma vantagem importante, mas, enquanto for matematicamente possível, vamos lutar até à última oportunidade. Isto não é uma desculpa, porque queremos ir o mais longe em todas as competições, mas jogar duas vezes por semana mostrou que tínhamos um plantel sensivelmente curto”, observou.

Zeca, de 31 anos e vinculado ao clube até 2023, espera que as “muitas lesões prolongadas de habituais titulares” desapareçam no ‘play-off’ entre os seis primeiros colocados de uma Liga “cada vez mais competitiva e a melhorar em qualidade técnico-tática”, à qual chegou em agosto de 2017, após seis temporadas nos gregos do Panathinaikos.

“Ainda não nos explicaram qual será o plano, mas a televisão devia transmitir os jogos livremente sem cobrar nada. Num momento destes não é fácil as pessoas pagarem para ver futebol”, apelou o médio nascido na Amadora, que se formou no Casa Pia, deu nas vistas pelo Vitória de Setúbal e contabiliza dois golos em 38 encontros pelos ‘leões’.

Pedro Silva questiona “pressa” na retoma da II Liga dinamarquesa

O guarda-redes português Pedro Silva, do HB Koge, mostrou-se hoje destemido pelo regresso da II Liga dinamarquesa de futebol no final de Maio, embora duvide da necessidade urgente em completar a temporada em plena pandemia de covid-19.

“Sinceramente, não tenho muito receio, porque tudo será testado e restringido ao máximo. Como sou pago para isso, só tenho de treinar e jogar, e farei com gosto. Mas tirando isso, será que vale a pena apressar tanto só para terminar uma temporada? Só levanto essa questão, porque há muita coisa que se vai manter fechada e o futebol vai voltar e parece que é tudo apressado”, avaliou à agência Lusa o dono da baliza dos ‘cisnes’.

No âmbito da segunda fase de desconfinamento face ao novo coronavírus, o Governo de Mette Frederiksen recebeu ‘luz verde’ das autoridades sanitárias na quinta-feira e a Liga deve anunciar hoje as condições para a retoma do futebol profissional à porta fechada em 29 de Maio, dois meses e meio após a suspensão dos dois principais escalões.

“Para um jogador, é muito melhor lidar com estádios cheios do que vazios, mas diria que o impacto não se sentirá tanto a esse nível. Há pequenas regras que teremos de cumprir quando o campeonato voltar, como fazer testes nos dias de jogos ou não estar nos balneários, e acredito que tragam uma realidade difícil e muito diferente”, defendeu.

Pedro Silva, de 23 anos, vive numa residência do HB Koge e apelida-se de “sortudo” por antever um “regresso facilitado” aos treinos colectivos a partir desta semana, pois arranjou alternativas para manter-se activo com dois companheiros de equipa durante o período de confinamento social, marcado por “poucas restrições” e “bastante liberdade”.

“Há um campo sintético que fica a 10 minutos a pé de casa e praticamente íamos para lá todas as manhãs. Não é difícil tentar manter o foco, mas o ânimo e a felicidade com que vamos treinar, porque não sabíamos nem ainda sabemos muito bem quanto tempo irá durar este surto”, elucidou, sobre uma nação com 529 mortos em 10.627 infectados.

Depois de ter mostrado “rapidez” a instaurar normas de distanciamento social em 13 de Março, sem nunca promulgar o estado de emergência, a Dinamarca destacou-se na contenção da covid-19 e demorou um mês a tornar-se um dos primeiros países europeus a reabrir alguns estabelecimentos escolares, ainda que de forma condicionada.

O alívio das restrições prolongou-se nas semanas seguintes junto de repartições públicas e algum comércio, enquanto permanece vedada a entrada de estrangeiros e concentrações superiores à dezena de pessoas, num país que evita “grandes filas” nos supermercados e procura obedecer “à risca” às indicações governamentais.

Para lá de afectar os horizontes futebolísticos, a pandemia acelerou a adaptação de Pedro Silva às temperaturas negativas e ao vento gelado da Dinamarca, onde aterrou em Janeiro, oriundo do Tondela, para abraçar a primeira experiência além-fronteiras e recuperar os minutos perdidos na ‘sombra’ do internacional luso Cláudio Ramos.

“Em Janeiro, tinha de sair, porque vinha de seis meses sem jogar. Na altura apareceram convites de Portugal, mas a minha vontade era começar uma nova vida no estrangeiro. O único clube que mostrou interesse foi o HB Koge e optei por crescer aqui”, contou o guardião formado no Sporting, que fez quatro jogos pelos ‘beirões’ na época passada.

Convocado para o Mundial sub-20 de 2017 e os Europeus sub-17 de 2014 e sub-19 de 2016 pela selecção das ‘quinas’, Pedro Silva sentiu uma “transição muito dura” para a mentalidade escandinava e evoluiu num estágio em solo turco, que veio compensar a tradicional pausa de inverno do futebol dinamarquês entre dezembro e fevereiro.

“Antes de recomeçar o campeonato, os treinadores foram honestos comigo e concordei que não estava completamente adaptado. Não estive nos dois jogos oficiais em março e depois veio esta paragem. Do que vi, é um estilo pouco táctico, mais físico e bastante atractivo face à Liga portuguesa”, comparou o guarda-redes, vinculado com o clube até 2022.

Após 20 das 33 jornadas, numa II Liga disputada a três voltas por 12 emblemas, os ‘cisnes’ seguem no sétimo posto, com os mesmos 25 pontos do Nykobing, sete acima da zona de descida e dez abaixo das duas vagas de acesso ao ‘play-off’ de promoção, que vão revelando o Viborg e o Fredericia como os perseguidores do líder isolado Vejle.

“O objectivo é a permanência, porque o clube está numa dinâmica de gestão de custos, mudou de treinador e está a construir novas infra-estruturas. Este ano é de transição e o próximo pode ser de afirmação”, apontou, sobre uma colectividade fundada em 2009, através da fusão dos antigos campeões nacionais Herfolge e Koge Boldklub.

Propriedade da Capelli, marca norte-americana de vestuário desportivo, o HB Koge passou pela I Liga há oito anos e recorreu ao apoio estatal para sobreviver aos impactos financeiros do novo coronavírus, resguardando a estabilidade de Pedro Silva, do defesa luso-romeno Marian Huja e de Sérgio Cecílio, líder do departamento de prospecção.

“Tenho a sorte de estar num país tão organizado. Depois, este mercado é muito mais atractivo e facilita a saída para França, Itália, Espanha ou Inglaterra. Vim para aqui como trampolim para uma dessas Ligas”, afiançou o sintrense, entregue às dicas de Heidi Johansen, considerada uma das melhores guarda-redes do mundo no início do século.

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