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Nas varandas das vizinhas!

- Mãe, a vizinha chama, vá à varanda.

- Aquela mulher dos diabos é a razão dos meus pecados!

Oh, vizinha, que tem para conversar? Não sabe que não se pode andar a falar?

- Pode-se sim, vizinha, a senhora está na sua varanda e eu estou na minha. Estamos a respeitar a distância regulamentar!

- Ainda bem. Se é assim, é um alívio para mim. Já me sinto aqui dentro como se estivesse

num convento.

- E eu também, vizinha, vou dar em tontinha. Quem me dera estar a fazer papel de freira, mas... com um frade à cabeceira!

- A vizinha tem cá um espirito (divertido) mesmo numa hora em que andamos todos aflitos.

- Tem que ser assim. Não é que não tenha a consciência do que está a acontecer aos outros não possa acontecer a mim. Este meu modo de encarar a vida é só para não andar para aqui deprimida.

- Tem razão no que está a dizer. O que está destinado para nós os ratos não vão roer!

- Olhe, meu irmão Joaquim, fica nervoso mal dá um atchim, o Abreu- que é mais velho do que eu - mandaram-no fazer ginástica, como não estava habituado, está para ali “entramelado”, minha filha, por não ver o namorado, anda num desassossego desgraçado, se eu não falo com a vizinha que será da minha vidinha?

-É verdade. É salutar a gente falar. Ou então nos livramos desse “bicho” do demónio e entramos no manicómio!

Mas dá cá uma dor na alma, ver estas ruas vazias, tudo numa confrangedora calma!

- Mas olhe, olhe vizinha, vem ali o Manuel, o filho da Mariazinha. Deve ir visitar o seu amor do 5º andar!

- Bolas, nem nesta fase critica, dura, se lhe faz baixar a “fervura”.

- Antes pelo contrário, vizinha, ao ver o seu amorzinho deve-lhe subir a temperatura!

- Olhe, eu cá já disse a meu marido: Ele pode fazer o que quiser e entender, andar por aqui ou por acolá, mas quando chegar a casa eu durmo na cama e ele no sofá.

- Bendito, bendito, eu não tenho coragem de dizer isso a meu marido!

- Oh, vizinha, depois de trinta anos de casados, qual é o problema de dormir dois ou três meses separados?

- Isso é verdade. Eles agora com seis meses de casados já andam - um do outro -enfastiados!

- Essa coisa da internet e do facebook já é suficiente para entreter grande parte desta juventude.

- É verdade, antes o computador do que o amor. Ainda assim, nesta situação de muita precaução, já disse ao meu filho que, em relação à namorada, ele faça de conta que ela está embarcada.

- Fez muito bem, isso é que é um conselho de mãe. Eles que deixem para outra hora, depois, então, punham as “contas em dia” até com “juros de mora”!

- Mudando de assunto, com esta desgraça que bateu à porta da gente, o que acha do trabalho do nosso presidente?

- Excelente! Foi um engano a gente pensar que ele só sabia tocar piano.

- E o senhor Secretário da Saúde com aquela carinha de “bonacheirão” também tem cumprido a sua missão.

- A vizinha tem razão, bem merecem a nossa aprovação.

- Bom, vizinha, vamos embora, continuar a nossa vida como até agora.

Ficarmos em casa, quietinhas, para bem da gente, da nossa família, e, inclusivamente, das nossas vizinhas.

- Tem razão. Mas esta conversa, fez-nos bem, aliviou-nos o coração.

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