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Lysenko

Nenhuma sociedade está isenta de sucumbir ao populismo

Este é um nome de que provavelmente ninguém se lembra. Mas Trofim Denisovich Lysenko (1898-1976) foi um agrónomo e biólogo soviético, que elaborou uma nova teoria de genética, com o fim prático de melhorar as colheitas e o abastecimento de bens alimentares, através da melhoria das espécies. Até aqui tudo louvável; esforços desses continuam a ser feitos por todo o Mundo, com resultados variáveis, mas muito de bom se tem feito nesse campo.

Lysenko tinha fracas bases teóricas, e as suas teorias foram muito contestadas na época pelos seus camaradas académicos. Por exemplo, Lysenko não acreditava em genes (ainda não se falava em DNA), e quando falou sobre eles foi para dizer que não existiam; acreditava que a totalidade de um organismo vivo era capaz de transmitir a informação hereditária, não dependendo de um componente específico (os genes).

Tudo isto não teria passado de uma discussão académica, se não fosse Lysenko ter recorrido ao camarada Estaline para apoiar as suas teorias. A partir daí, passaram a doutrina, com as consequências previsíveis para a Ciência e para a agricultura soviética.

Alguns considerarão perda de tempo esta divagação pelo que consideram o “caixote de lixo da História”. Não é bem assim: aprender com os erros é a melhor maneira de os evitar.

Diz-se que uma caraterística deste século é uma informação superabundante. E, sendo assim, estaríamos no bom caminho para alcançar algo próximo da perfeição. Desde o século XVIII se afirma que a libertação do Homem e a sociedade perfeita seriam atingidas através do Conhecimento – e daí que se tivesse procurado instruir as populações, primeiro passo para a sua maturidade. Do ler, escrever e contar chegou-se aos nove anos de escolaridade obrigatória, uma meta utópica para os iluministas desses tempos.

A Educação é um dos fundamentos de uma sociedade democrática. Perversamente, antes do 25 de Abril, dizia-se que o povo não estava preparado para a Democracia; e, como não se fazia essa preparação, fechava-se o ciclo vicioso.

Nenhuma sociedade está isenta de sucumbir ao populismo, e o fenómeno nem é novo; basta lembrar o exemplo histórico de Alcibíades, o bonitão grego do século V A.C. que levou a democrática Atenas ao desastre, pela sua lábia, inconstância e desonestidade.

A arte do demagogo está em desvalorizar o Conhecimento e apelar aos instintos. Obtidos os seguidores, de nada vale argumentar. Tal como no caso Lysenko, a verdade científica fica ultrapassada pela cobertura política –e, se o poder é absoluto, o mal absoluto é.

Em tempos de pandemia, estes exemplos históricos deviam levar-nos a meditar.

Porque qualquer aprendiz de ditador sabe servir-se do cargo para vender “banha da cobra” (perdoem a expressão, mas é a apropriada) com tintas de conhecimento científico, e descarregar os desaires para cima de terceiros.

O caso das injeções de lixívia ou da aplicação interna de ultra violetas não cabe neste artigo; fica reservado para a secção humorística.

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