>
Artigos

COVID19 – Recuar ou avançar? – eis a questão

Uma das grandes dificuldades das Ciências Sociais é conseguirem utilizar o método experimental que é utilizado nas Ciências, ditas, Exatas. Assim, não é fácil para o investigador social ter dois grupos com características idênticas sendo que a um é dado o tratamento enquanto ao outro não o é (grupo controle). Este é o procedimento seguido na investigação médica e que temos visto nas notícias na busca da vacina para o COVID19.

Na Economia da Educação houve alguns estudos que utilizaram este método. Ficou famosa a experiência feita nos anos 60 do século passado, nos Estados Unidos, com crianças em idade pré-escolar de meios desfavorecidos em que a um grupo foi dado um apoio especial para adquirirem competências sociais e de capacitação pessoal enquanto o grupo controle não recebeu nenhum apoio especial. Estas crianças têm sido seguidas ao longo da sua vida e a conclusão que se obteve é que valeu a pena o apoio dado. O impacto positivo verificou-se não só na vida das crianças sujeitas a tratamento e suas famílias, mas também para a sociedade como um todo.

Na falta da capacidade de experimentação, os investigadores têm de utilizar experiências naturais que são acontecimentos que ocorrem nas vidas dos indivíduos sem que estes os tenham previsto. Na literatura científica da Economia da Educação têm aparecido como exemplos, entre outros: as guerras, as crises económicas, as mudanças da lei, em particular, os anos de escolaridade obrigatória. Nestas experiências naturais é muito importante o facto de os indivíduos não anteciparem a situação, deste modo não tendo a oportunidade de se prepararem ou de se auto-selecionarem para a viver ou não, ou o modo como a vão viver.

No campo da Economia da Educação vai ser interessante ver qual o resultado na aquisição das competências pelos estudantes da utilização da lecionação online. De repente, e sem que ninguém o antecipasse, os professores passaram a lecionar a partir de casa através da internet e os alunos (os que têm acesso à internet) passaram a seguir as aulas nas suas casas. Passámos de um sistema em que os Professores estavam em contato direto, em que se apercebiam se os alunos estavam ou não a seguir o que estava a ser apresentado, se estavam atentos ou distraídos e se se estavam a se esforçar para adquirir as competências para um sistema em que o Professor fala para um computador, em que os alunos não abrem as suas câmaras, não respondem ao que é perguntado, nem apresentam dúvidas sobre o que está a ser efetuado. Estamos agora num sistema em que o aluno é o ator principal da sua aprendizagem. Será que todos os alunos estarão igualmente preparados para esta maior responsabilização?

Os estudos futuros irão responder a perguntas sobre quem saiu beneficiado ou menos prejudicado com esta experiência de ensino online. Os bons alunos ou os maus alunos? Os alunos de meios mais favorecidos ou dos meios desfavorecidos? Os rapazes ou as raparigas? Os jovens dos países do Norte da Europa, em que a Sociedade os trata como jovens adultos, ou dos do Sul da Europa, tratados como “crianças crescidas” pela Sociedade?

O COVID19 não vai ser só uma experimentação natural para a Economia da Educação, mas para todas as ciências, pois vai ajudar a dar resposta a muitas questões, algumas das quais só agora nos colocamos, como as grandes questões: qual a melhor forma de voltar à normalidade? Ou não será que é melhor não voltar à normalidade e reinventar todo o sistema? Como sempre, para termos uma boa investigação é necessário que haja acesso aos dados.

Contudo, ver todos a clamarem pela normalidade de estilos de vida que urge reequacionar a bem do Planeta e de todos nós, dá-nos a sensação que provavelmente, tanto coletiva como individualmente, pouco estamos a aprender nestes tempos novos que vivemos e que, segundo os especialistas, irão perdurar no tempo. Talvez este seja o tempo propício em que, mais do que pensar como recuar no tempo, todos deveríamos estar a pensar como avançar, encontrando novas soluções para velhos problemas.

Aproveitemos mais uns dias de ar puro e de silêncio e preparemo-nos para um tempo em temos que acreditar que uma borboleta bate as asas na China e vamos sentir o vendaval na Madeira.

Fechar Menu