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O Paradoxo da Competência

O caso de Henrique Martins está ao rubro, sinceramente desconheço todos os detalhes do caso, mas a alegação que houve desinvestimento na linha da Saúde é verdadeira. Já vi este tipo de incidentes nas mais variadas organizações, sobre todos os tipos e feitios. Quadros de todos os escalões podem sucumbir àquilo que considero um paradoxo. São os quadros mais competentes das organizações que recebem maior hostilidade, num primeiro plano horizontal, ou seja, pelos colegas, num segundo plano, vertical, que é o caso das chefias. Foi dito que Henrique Martins deveria ter batido a porta quando se apercebeu das dificuldades financeiras e operacionais, mas é exactamente isso que um profissional competente não faz perante a adversidade. Um profissional competente fica para superar as adversidades, muitas vezes convencido que a lógica e a razão vão imperar. É uma percepção ingénua, talvez. As organizações não são só meios para atingir fins empresariais ou outras missões, as organizações são também feudos, locais de prestígio e estatuto social. E isso gera atritos que não se restringem ou se inibem pela razão ou pela lógica. Há organizações que são perfeitamente capazes de sacrificar os seus desígnios oficiais para restabelecer autoridade ou a hierarquia. Henrique Martins pode ser apenas mais um caso deste estranho paradoxo da competência.

As organizações de excelência também sofrem deste paradoxo pois por vezes é difícil de superar as dinâmicas de segregação do talento ou a hostilidade perante a competência, uma dificuldade que produz estagnação empresarial. Daí a necessidade de fazer um estudo aprofundado sobre as dinâmicas das organizações na região. Há especialistas nacionais determinados em abordar este tema com seriedade, a nível nacional e regional. O incentivo para esta abordagem teve origem nas declarações do ministro Augusto Santos Silva que numa entrevista defendeu a ideia que muitos dos problemas do dinamismo empresarial em Portugal deve-se à qualidade da gestão. É preciso, em primeiro lugar, desmestificar esta ideia. Os gestores e empresários muitas vezes lidam com dinâmicas já pré-estabelecidas, tendo dificuldade em alcançar resultados por falta de massa crítica para crescer. Outros dilemas também trazem importantes obstáculos, e o resultado é uma mentalidade de sobrevivência, sendo sacrificadas outras abordagens que podem conduzir ao crescimento. Esta visão torna secundários aspectos cruciais no sucesso das empresas: crescimento da produtividade ou da eficiência. Não nos podemos esquecer, para terminar, que o recurso mais relevante de todos os profissionais é o tempo, e é este activo que mais sofre com dinâmicas pouco objectivas, eficazes ou focadas em resultados concrectos.

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