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O Funchal Que Nos Une – São Pedro

Mas mais do que edifícios, São Pedro faz-se de pessoas e das suas histórias de vida

Era madrugada de terça-feira quando cheguei ao Funchal, enchendo pela primeira vez os pulmões com os bons ares que bafejam a freguesia de São Pedro. Tal como a maioria dos jovens da minha geração, sou natural de São Pedro. Nasci no Hospital da Cruz de Carvalho, passados apenas 3 anos após a sua inauguração, e não me lembro quem era o director clínico, nem o conselho de administração. Na verdade, nem me lembro de lá ter estado, não fossem as fotografias da praxe que, muito antes das redes sociais, tinham honras de abertura dos álbuns familiares.

Contudo, e num momento em que a reabilitação urbana é um dos principais motores do desenvolvimento económico das cidades, não deixa de ser estranho que um edifício se debata com a sua obsolescência no espaço de uma geração. Coincidentemente, foi nesta freguesia que se instalou Gonçalves Zarco, construindo nela o primeiro hospital da ilha, nas imediações da capela de São Pedro e São Paulo, actualmente num estado de degradação que urge travar.

O património edificado nesta freguesia, desde os tempos construção das fortificações no pós-ataque dos corsários franceses, é um exemplo histórico do crescimento assimétrico da cidade e das desigualdades que imperaram na sociedade madeirense. Se por um lado, dentro das muralhas da cidade, erguiam-se templos e palacetes com o vigor comercial as classes nobiliárias e monásticas, por outro, as classes mais humildes instalavam-se nos Moinhos, nos Arrifes, nos Frias e na Cabouqueira.

Este executivo orgulha-se de desenvolver todos os esforços para permitir a regeneração integral do Núcleo Histórico da cidade, independentemente do valor patrimonial dos edifícios, procurando dar respostas a todos os cidadãos, na esteira das políticas de equidade e justiça social que nos caracterizam. Três exemplos: (1) criação da ‘ARU – Cidade Com Vida’ que permitiu a reabilitação de vários prédios em condições preferenciais como o edifício Caju; (2) identificação e declaração de prédios devolutos que constituem focos de insegurança e insalubridade como constatamos com os recentes incêndios de 2016 e (3) classificação de imóveis de interesse municipal como as muralhas do Brigadeiro Oudinot e a Ponte de São Paulo, preservando-os da voragem betonizadora do Governo Regional.

Mas mais do que edifícios, São Pedro faz-se de pessoas e das suas histórias de vida. No mês de Fevereiro, a iniciativa ‘O Funchal Que Nos Une’ permitiu conhecer de perto aquelas pessoas que dão alma a esta freguesia.

O Carlos Jorge estabeleceu aqui a sua oficina há muitos anos, onde continua a oferecer ao mundo os melodiosos acordes que se escondem nas suas guitarras. O José Júlio dá um impulso internacional às talentosas cordas vocais do Coro de Câmara. O Laureano mantém, na Liga dos Combatentes, a moral das hostes elevada servindo-nos de exemplo às batalhas do quotidiano. A Cristina e a Helena mostram-nos na AMI as pequenas vitórias diárias pela dignidade que alcançamos sobre a indiferença e a intolerância. O Rui e o Tó Zé arremetem-se à hercúlea tarefa de criar um refúgio identitário à etnografia e musicalidade regional. A Yenny faz a diferença nas vidas de mães e filhos que encontram no Centro da Mãe o conforto e calor humano, ausente noutras paragens. O António e a sua equipa da junta de freguesia apostam em projectos educativos com valor acrescentado para as crianças do 1º ciclo. O Luís encontra na equipa da APPDA a oportunidade de inclusão, suplantando as dificuldades com uma alegria contagiante.

Estes são alguns dos nomes que superiormente desenvolvem actividades de extrema importância para a cidade do Funchal, devolvendo à comunidade algo muito maior e mais nobre do que quaisquer recursos financeiros possam pagar: a amor pela cidade que nos une.

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