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A tradição já não é o que era...

Como fazer para que a tradição volte a fazer parte do nosso quotidiano?

Os números recentemente divulgados sobre as nossas indústrias tradicionais deviam ter feito soar todos os alarmes mas o silêncio, também aqui, é ensurdecedor.

Não sei se por se entender que não há remédio ou se por falta de capacidade, a verdade é que o facto de o Bordado representar menos de 600.000€ de facturação/ano aparentemente não chocou ninguém. Menos 350.000€ que no ano anterior!

Quem está ligado a este ramo sabe que hoje é raro, raríssimo, conseguir-se vender uma toalha de mesa ou um qualquer conjunto de roupa de casa, contrariamente ao que sucedia quando tínhamos (muito) menos visitantes na Ilha, cruzeiros incluídos.

Descontemos os costumeiros prevaricadores que a AT, certamente por obra e graça de Nosso Senhor, teima em não fiscalizar. E a vergonha do que se vende em bazares como produto tradicional, sem qualquer critério e onde o crivo de qualidade de uns selos não parece ser obrigatório. E os vendedores de rua, mesmo aqueles que fazem praça à frente da GNR ou nas principais artérias da cidade. E podia continuar, não fosse depois sentir falta de caracteres para dizer mais alguma coisa...

O que podemos inferir do volume de vendas deste sector? E o que dizer, se juntarmos os menos de 100.000€ dos vimes? Mesmo o Vinho Madeira, durante décadas a nossa maior e mais reconhecida Marca, não deveria representar mais rendimento e peso na riqueza produzida?

Talvez isto não interesse, de facto e daqui não possa concluir-se nada quando comparamos a Madeira de hoje com a Madeira com metade (ou 1/3) do actual número de camas (e sim, convido-vos a incluir análise do pessoal ao serviço na hotelaria; vão ficar surpreendidos...).

O meu contributo para a discussão é no entanto outro.

Para além da necessidade clara de reinvenção e de combate à enorme resistência à mudança; para além da premente capacidade de atrair mais pessoas para trabalhar estas artes; para além de percebermos que Institutos devem servir para algo mais do que burocratizar processos... Para além disto tudo, a grande causa para o actual estado das nossas indústrias tradicionais tem a ver com o facto de nós, madeirenses, as termos deixado de utilizar.

Num mundo onde tanto se valoriza a cultura, o termos erradicado das nossas casas e do nosso dia-a-dia, Bordados nas nossas mesas e camas ou Vimes nos seus jardins, assim como o Vinho nos nossos copos como que “disneyzou” o que antes era um hábito.

Como fazer para que a tradição volte a fazer parte do nosso quotidiano? É um debate que, acho, vale a pena!

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